quarta-feira, 3 de setembro de 2014

MARIA SALOMÉ PEDROSA


Para o povo de Itaporanga Dona Salomé Pedrosa é a síntese da bravura, da lealdade e do caráter que sempre nortearam as mulheres de Misericórdia. Sobre Dona Salomé conta-se muitas historias, e ninguém foi mais respeitada e admirada do que ela. Pequenina, rica, sempre elegante, pisando firme do alto dos seus sapatos com alguns centímetros de salto, Salomé, casada com Josué Pedrosa, um misto de financista, industrial e agropecuarista, não dispensava o perfume francês e era figura presente em todos os acontecimentos da cidade. Nos bons momentos e nos tristes acontecimentos, em festas políticas e sociais, casamentos e batizados ela estava sempre presente. Foi madrinha de quase todas as crianças que nasceram na sua época.

Ela, melhor do que ninguém deu demonstrações de apego e solidariedade aos seus conterrâneos, saindo das fronteiras do lar, deixando de lado preconceitos e costumes mesquinhos para ajudar aos mais humildes, não medindo esforços, desconhecendo sacrifícios e demonstrando valentia incomum para os padrões de sua época.

Três historias que contam sobre ela são bem representativas do seu espírito evoluído e justiceiro. Certa feita, uma prostituta, moradora do baixo meretrício de Itaporanga, estava em vias de dá a luz a urna criança, mas na cidade não tinha quem fizesse o parto. Dona Salomé, informada sobre o que estava acontecendo, foi pessoalmente cuidar da meretriz. A cidade assombrou-se com a sua atitude, afinal a zona boêmia era lugar proibido para urna senhora casada. Para ela, no entanto, aquela era apenas uma mulher precisando de ajuda, pouco importando o que ela era e o local onde se encontrava.

De outra feita, quando da vitória do Movimento Liberal, em 1930, a Polícia Militar, estimulada pelos novos donos do poder, saiu a caça prendendo simpatizantes do Perrepismo, representado no sertão paraibano pelo coronel José Pereira. Apesar de toda a fúria policial, as prisões não passaram de duas ou três. Todas de pessoas humildes. Dona Salomé, soube do que estava ocorrendo e, sem papas na língua, exigiu a libertação dos presos pobres e a prisão dos Perrepistas ricos. A cadeia ficou vazia. Os pobres foram soltos e os mais abastados apontados por ela nunca chegaram ás celas.

Pacifista por natureza, a Dona Salomé não interessava o tamanho do perigo desde que fosse para servir ao próximo. Itaporanga sempre cultivou inimizades entre famílias. A maior de todas elas, e que até hoje perdura, envolve os membros do Genipapo e os Nitão. No auge da querela, a mulher de Chico Nitão estava entre a vida e a morte. Debatia-se há dois dias com as dores de um parto que não se consumia. Era preciso a intervenção de um médico e o único da cidade era Dr. José Gomes, inimigo de sangue dos Nitão. Dona Salomé resolveu intermediar a questão. Foi a Zé Gomes e pediu que ele cumprisse com o seu juramento de médico, e este, após algumas ponderações, concordou em atender a paciente desde que o seu marido não estivesse em casa. Feito o acordo, o médico foi até a residência do inimigo e salvou a mulher e o menino que nasceu forte e sadio. Quando Dr. José Gomes deixava a casa de Chico Nitão o encontrou sentado a alguns metros. Nitão quis saber então quanto devia ao médico pelos seus serviços. Zé Gomes respondeu-lhe que ele não lhe devia nada. Foi a última vez que eles se falaram.

Assim era Dona Salomé: firme, presente, solidária..

Dona Salomé é, pois, a síntese da altivez de todas as mulheres de Misericórdia. Um exemplo para os jovens e adultos de Itaporanga.

Ela obteve 25 votos, 1,7% dos votos válidos, ficando em nono lugar na eleição do "Itaporanguense do Século!"

                                                                                 Revista "O Itaporanguense do Século", junho de 2001
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Se porventura, existir algum fato não condizente com a verdade, desculpem-nos, pois, poucas são as fontes de consulta. Os familiares dos ex-prefeitos que quiserem colaborar conosco, com fotos ou documentos; favor entrar em contato com: itaporanga150@gmail.com

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