terça-feira, 30 de setembro de 2014

O MAESTRO EDMILSON PINTO


José Assimário Pinto

Conheci o Maestro Edmilson Pinto, por volta de 1960, na Cidade de Itaporanga.

Ele já passara também pelo Seminário Nossa Senhora da Assunção, provavelmente da mesma turma de alunos da época, dentre os quais, José Augusto de Carvalho Filho (Pitarcas), irmão da minha mãe, Maria Acy Leite Pinto, portanto meu tio.

Já àquele tempo, ele sobressaíra dentre todos os alunos do Seminário, mormente pela sua tendência e vocação à musicalidade que lá desenvolvera, diante da inegável qualidade do professorado.

Edmilson, tal qual eu, nascera de pais humildes e honestos, humildade essa que conserva até hoje.

Vi inúmeras vezes o seu desempenho de mestre, realmente impressionante: Toca todos os instrumentos que se possa imaginar, de pandeiro a violino.

Filho do casal Milton e Maria Querubino da Silva Pinto, salvo engano.

Maria integrava o grupo de senhoras que frequentavam a Igreja diariamente. A minha lembrança fervilha de lembranças daquela época feliz, onde estudava na Escola Paroquial São Domingos Sávio, que se encravava na esquina da pracinha, que ainda hoje existe, de fonte à Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.

Creio que Edmilson teve como primeiro instrumento de sua vida, uma velha serafina, deixada de herança pelo Padre posteriormente Cônego, Manoel Firmino, que fora o predecessor do Padre José Sinfrônio de Assis.

O Cônego Firmino, como era chamado, deixara no vilarejo inúmeros feitos, inspirando o nome da filarmônica que trás ainda hoje o seu nome, e eu era formada por figuras inesquecíveis como Zeba, Vafedro Sousa, Zé Augusto de Carvalho – meu avô, e tio Dison – Edsom Leite Guimarães.

Edmilson notabilizara-se pelo seu temperamento enervado e agressivo, não admitindo, de forma alguma, que qualquer dos seus alunos e/ou comandados, desse uma nota só fora de tom.

Certa vez, Amaury Freitas Pinto – filho do emérito e inesquecível, Jorge de Freitas Queiroz-, um homem admirador da música nordestina e seu propagador, contou-me a propósito, do temperamento do maestro: Numa festa, na cidade de Itaporanga, Amaury colocou um copo (caneco de alumínio), cheio de cerveja gelada, por sobre uma janela que se abria na lateral do Atlântida Clube e mostrara a deliciosa bebida a Edmilson, e, ao mesmo tempo, cochichando no ouvido de Pedro Môco, famoso pandeirista, que aquele copo era destinado a ele.

Pedro Môco, de boa fé, aproveitou o intervalo da festa e foi saborear a bebida. Nisso Edmilson viu, Pedro de beiço aberto, tomando a cerveja.

Partiu pra cima de Pedro de dedo em riste, e foi falando:
– Nego sem vergonha, deixa minha bebida aqui, que foi Amaury de Jorge que botou pra mim e não pra ti, e se achar ruim, pode ir simbora!!! vou lá no Cantinho – sítio que tradicionalmente deu muitos artistas -e pego um dos 33 pandeiristas que tem lá e boto no teu lugar, e riscou uma faca peixeira que zuniu no salão, causando correria de moças e senhoras.

Contam-se outras e outras, que bem qualificam o temperamento do Maestro.

Maria de Anunciato, sua mãe, que era uma exímia cantora de hinos e benditos da Igreja, certa feita atrevera-se a acompanhar Edmilson tocando na Serafina da Igreja, e não percebera que Edmilson dera um breque, a certa altura, terminando com a sua exibição musical.

Edmilson, olhou pra própria mãe, estupefata e disse:
– Mãe, se tu passares batida de novo, eu não te deixo deixar em casa!

O temperamento do ilustrado músico não sombreou nem sua musicalidade, nem tampouco o brilho de suas apresentações, sendo sempre chamado a tocar em festas religiosas e laicas, alegrando e pasmando a todos, mercê de sua genialidade musical, que assomara nos tempos de Seminário.

De outra feita, contou-me um dos seminaristas, que Zé Pitarcas, pessoa alegre, risonha e sempre feliz, “rendera” o senhor Bispo Diocesano, Zacarias Rolim de Moura, nos corredores do Seminário, com um pedaço de pau que dizia uma pistola, arma de fogo usada na região, e por conta disso, sofrera grande castigo, juntamente com Yolando Neves, seu companheiro inseparável de presepadas.

Nessa minha tarefa, de descrever figuras ímpares da Cidade de Itaporanga do tempo passado, não poderia deixar de registrar essas passagens, saudosas, porém montadas de felicidades.

Campina Grande, 22 de outubro de 2013.

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