terça-feira, 23 de junho de 2015

POEMA POUCO

(Onildo Sitonio)

Eu sempre sonhei construir um poema de amor!
Um poema quase sóbrio, de leve embriaguez, e perfeito... 
Mas, vale a pena transformar palavras em um poema completamente sóbrio, 
antipático e de senso crítico um pouco duvidoso?
Não seria, portanto, um poema meu.
Seria uma poesia de uma autoria qualquer, de um qualquer coração,
de um ser humano indefinidamente poeta, sem criatividade e autoridade,
despido da tenra glória de ser um escritor...
Um poeminha de um poetinha, sem falsa modéstia!

E, o que eu, ao sabor do acaso, discorreria sobre o amor?

Falar de amor, é um falar intravenoso, abissal até, da mais pura entranha cordial,
cheio de trejeitos e de trajetos capciosos, de acidentais percursos glamurosos,
de doces facetas, altruisticamente encravadas no âmago, mel puro de favos nobres,
ou amargas e ferinas recordações, fel puro do pior e mais acre fel...

O amor é pura consciência, um saber gostosamente sadio e belo,
um ideal formado e perpetrado nas mentalidades inocentes ,
viajantes em um espaço etéreo, tênue e prestes a se diluir
ao único meditar sobre o existir fortuito: luz e trevas,
imagens metafóricas do doce idílio empiricamente humano...

O amor é romance capa de revista, é a pública estereotipia cotidiana,
complicado e elaborado longa(ou curta) metragem, onde cineastas e atores
se misturam, numa paradisíaca fita sem pé e sem cabeça...

É o íntimo de dois seres, ou até mais, absolutamente inebriados e sôfregos de desejo,
cegos de prazer, ardentes de paixão, loucos por um momento único e vigorosamente 
seus.
Epílogo carnal de conseqüências (talvez) imprevisíveis!

O amor é um suave devaneio,caracteristicamente nuvem de algodão no céu do coração!
É uma tempestade de fim de tarde , com lama e frio contrastantes...

É um chamamento perene ao aconchego de braços, sensualmente desobrigados de hipó
crita sensualidade,
ou um vem cá meu bem desinteressado e desinteresseiro de fim de noite.

O amor é um se dar constante, um se doar eterno, um provável se deixar morrer pelo 
outro,
um carregar o peso da cruz e nela ser imolado, verdadeiramente sacrificado, sem temor
e com obstinação.
É chorar, copiosamente, no peito do irmão, lágrimas verdadeiras e sofridas, de indubitá
vel sentimento!

O amor é carne, sangue, derme, epiderme, rins, fígado, cérebro, olhos, nariz e boca!

É beijo, abraço, afago, olhares, carícia, calor de abraço, roçar de corpos, mistura de 
cores raciais, em um frenético atrito horizontal ou puramente vertical...

O amor é trabalho, em um trabalhar constante e estafante, anos a fio em prol da prole.
É sair de casa com o galo cantando e voltar com as galinhas já dormindo,
em um misto de volta e revolta por um dever quase cumprido, salário incompatível ,
missão desproporcional ao porte mental, espiritual e físico...

É fazer almoço, é lavar a roupa, é esperar para jantar e o outro não chegar...
E, resignadamente, guardar no forno tudo pronto, deitar e esperar.
É uma resposta sem pergunta... Um estranho adivinhar!

O amor é filho, irmão, pai, mãe, avós, amigos, conhecidos e desconhecidos próximos,
com os quais somos obrigados a conviver e pelos quais somos obrigados a orar,
em um padecimento próprio do cristão comprometido com o Deus Pai Criador,
na fé e na obra...

O amor é...tantas coisas mais ...
Um poema , assustadoramente, infinito.
Por isso, é que tão poucas pessoas escrevem, deveras, sobre a sua essência...
Ufa!
Atrevidamente, prazerosamente a isso me dispus....


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