sábado, 8 de novembro de 2014

Mais dois achados do poeta Pompílio Diniz


Rolando Boldrin nasceu na pequena cidade interiorana de São Joaquim da Barra, no estado de São Paulo. Desde pequeno, aos sete anos, já tocava a viola. Aos dezesseis anos foi para a capital São Paulo de carona em um caminhão. Lá, antes de finalmente emplacar na carreira de cantor, foi sapateiro, frentista, carregador, garçom e ajudante de farmacêutico.

Entre o final da década de 50 e começo da de 60, teve uma grande experiência como ator de teleteatros da TV Tupi, ao lado de nomes como Lima Duarte, Laura Cardoso, Dionísio Azevedo e outros. Atuou em diversas novelas das TVs Record, Tupi e Bandeirantes, até a década de 1980.

Em agosto de 1981, estreou o programa Som Brasil, na TV Globo, com o objetivo de divulgar a música brasileira de inspiração regional. Rolando Boldrin contava causos, dançava e exibia peças teatrais e pequenos documentários. Boldrin deixou o programa em 1984, mas levou a ideia a outros dois programas apresentados por ele, também na década de 1980: Empório Brasileiro (TV Bandeirantes) e Empório Brasil (SBT).

Atualmente apresenta o programa Sr. Brasil, pela Rede Cultura de São Paulo. Declamador de poesia matuta e para nós itaporanguense vê-lo recitar os poemas do nosso conterrâneo Pompílio Diniz. Neste poema “A revolta dos macacos” e "Pro Quê", uma representação magistral deste grande intérprete brazuca.


A Revolta dos Macacos
Autor: Pompilho Diniz

Só nos trouxe desvantage
Essa ta de descendênça.
Pois pru mode essas bobage,
Houve tanta desavença,
Que de argum tempo pra cá
Bicho nenhum quer mais dá
A macaco muita crença...

No entanto vocês se engana
Pió mentira não há.
Coquero não dá banana
(cada coisa em seu lugá)
Nem bananera dá coco
Nóis, os macaco tampouco
Vai outro bicho gerá

E nenhum de nóis aceita
Na famia essa braiada.
Nossas macaca é direita
Muito honesta e respeitada
É por isso que eu duvido
Que os homi tenha nascido
No meio da macacada

Se os homi tivesse em fim
descendência de macaco,
num havia gente ruim
e nem sujeito veiaco.
Vivia sem ter trabaio
Drumindo no memo gaio
Comendo no memo caco

Repare se argum macaco
bebe cachaça pru viço.
Se cheira tabaco...
Ou desejando sumiço,
ele memo se matasse.
Mas os homi quando nasce
Já tem tendença pra isso

Veja bem se argum de nois
somente por ambição
Guardando rancor feroz
mata seu prório irmã.
Que ele seja forte ou fraco
macaco contra macaco
nunca fez revolução

Animá nenhum da terra
Tem esse instinto do homi
de vivê fazendo guerra
Matando os outro de fomi.
Entre nóis há união.
Sem haver exproração
quando um comi os outro comi

Se um macaco tá doente,
cura seu má com resina.
Mas os homi é deferente.
Faz primeiro uma chacina
em tudo quanto é macaco
e dele fazer vacina

Também as nossa macaca
Num dexa os fio cum fomi
nem arruma a sua maca
e pelo mundo se somi
atrás de outro chimpanzé
Cumo faz essas muié
fugindo com os outro homi

As nossas macaca véve
Cuidando só da famia.
Nenhuma deles se atreve
ir de noite pras folia
deixando em casa seus fio
bandonado, com frio
pra vortá no outro dia

Porém, nada disso importa
E pra falá francamente
Nóis enfim só não suporta
a mentira dessa gente
que pra manchá nosso nome,
quer pru força que esses homi
seja nossos descendente.


Pru quê, de Pompílio Diniz

Pru quê tu chora, pru quê?
Pru quê teu peito saluça
e o coração se adebruça
nos abismo do sofrê?
Tu pode me arrespondê?
Pru quê tua arma suzinha
pelas estrada caminha
sem aligria mais tê?

Pru quê teus óio num vê
e o coração não escuita
no sacrificio da luita
este cunvite a vivê?
Eu te prugunto, pru quê?
pru quê teus pé já sangrando
cuntinua caminhando
pela estrada do sofrê?

Pru quê tua boca só fala
das coisa triste da vida
que muita veiz esquecida
dentro do peito se cala?
quando o amô prefume exala
pru quê tu mata a simente
dessa aligria inucente
que no seu sonho se embala?

Pru quê que teu coração
é cumo um baú trancado
e dento dele guardado
só desespero e afrição
Pru quê num faiz meu irmão
uma limpeza la dentro
varrendo cô pensamento
os ispim da mardição?

Pru quê tu véve agarrado
nas asa desse caixão
que carrega a assumbração
desse difunto, o passado?
Se tu já véve cansado,
interra todo o trumento
na cova do isquicimento
pra nunca mais sê lembrado

Despois disso, vem mais eu…
vem ouví pelas estrada
o canto da passarada
que em seu peito imudeceu.
escuita a vóz das cascata,
chêra o prefume das mata,
óia os campo, tudo é teu…

Aprende côs passarim
que só tem vóz pra canta
com o sor que nasce cedim
e vem teu frio esquentá
Óia as estrela, o luar
mas antes de tu querê
isso tudo arrecebê
aprende primeiro… a dá.

3 comentários:

Salve Mestre. Estão faltando os 4 primeiros versos da poesia ....
A REVORTA DOS MACACO
Pompilio Diniz – 1.953
Da Coletânea Paes Landim

Eu tenho em minha casa
Um papagai faladô
Bichim di pena e asa
Num pódi tê mais valô
Cunvéssa cum os animá
I dispois vem mi contá
Tudo o qui us bicho falô

E eu garanto a você
Num gosto di labacé
Purisso vô li dizê
Acrediti si quisé
Cum certeza nunca ispái
Cunvéssa di papagai
Ô fuxico di muié...

Pois meu papagai asturdia
Voano vei mi contá
O que um macaco dizia
Pra todos os animá
Que em defesa de seu nome
Ia movê contra os home
Uma Ação Judiciá.....

O papagai disse enfim
Qui essi macaco feroiz
Falava prus bicho assim
Im toda a artura da vóiz:
Qui pra vergonha dos macaco
Disse um sujeito veiaco
Qui us homi nasceu di nóis

Mas só trôxe disvantage
Essa tal de descendença
Qui pru módi essa bobage
Houve tanta disavença
Qui di uns tempo pra cá
Bicho ninhum qué mais dá
Aos macaco muita crença

Num intanto voçeis si ingana
Pió mintira num há
-Coquêro num dá banana-
Cada coisa im seu lugá
-Nem bananêra dá côco-
Nóis us macaco tão pôco
Fomo ôtos bicho gerá

E ninhum di nois aceita
Na famía essa braiada
Nossas macaca é direita
Muito honesta e arrespeitada
E é purisso que eu duvido
Qui us homi tenha nacido
Nu meio da macacada

Se us homi tivesse infim
Descendença di macaco
Num havia gente ruim
E nem sujeito veiaco
Vivia sem tê trabaio
Drumindo no mesmo gaio
Cumeno nu mesmo caco

Repare se argum macaco
Toma cachaça pru viço
Se fuma ô chêra tabaco
Ô desejano sumiço
Ele mesmo si matasse
Mas os homi quando nasce
Já tem tendença pra isso

Veja bem se argum di nois
Somente pur ambição
Guardano rancô feróis
Mata o seu própri irimão
Seja ele forte ô fraco.
Macaco contra macaco
Nunca feiz rivulução...

Animá ninhum da terra
Tem esse instinto do homi
Di vivê fazeno guerra
E matano os ôto di fómi
Entre nóis há união
Sem havê ixploração
Quando um cómi, ôto comi...

Quando um macaco tá duente
Cura seu má cum resina
Mais us homi é deferente
Faiz premêro uma chacina
Em tudo quanto é macaco
Pra di nóis tirá um taco
E dele fazê vacina

As nossas macaca véve
Cuidano só da família
Ninhuma dela se astreve
I di noite pras fulia
Dexano em casa seus fio
Abandonado, cum frio
Pra vortá nu ôto dia

Porém nada disso importa
E pra falá francamente
Nois infim já num suporta
A mintira dessa gente
Qui pra manchá nosso nómi
Qué pru força qui essis homi
Seja nosso descendente......

Onde posso encontrar vídeos do Pompilio Diniz recitando?

Autor do Livro Na Mané Gonçalo, que tenho desde a década de 60! Excelente!

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