Começo da década de 40. Quem cruza o sítio Poço da Pedra e passa pela terra do pacato e benquisto Belmiro Pinto Brandão vai, inevitavelmente, avistar uma plantação de não mais do que dois hectares de fumo e, dentro dela, um jovem de aparência frágil, mas vigorosamente determinado. É um dos dez filhos do velho Belmiro. Seu nome é Francisco Pinto Brandão, mas dali a duas décadas terá o apelido de Chico Pinto e será o homem mais rico de Itaporanga.
Foi assim que começou um dos maiores comerciantes da região em todos os tempos: plantando, colhendo e vendendo fumo. A produção de Chico era juntada a que o pai comprava em Itaporanga e seguia em lombo de burros para o comércio de cidades do Rio Grande do Norte e da Paraíba, a exemplo de Sousa.
O gosto e a vocação pelos negócios herdou do pai: Belmiro comprava e revendia não apenas fumo, mas também algodão e couro curtido. Chico Pinto seguiu e alargou os passos paternos no ramo do comércio. Ainda era solteiro quando deixou o sítio para se dedicar ao mercado: o seu armazém foi montado inicialmente na Rua da Várzea, esquina com a Horácio Gomes, mas, anos depois, foi transferido para a Getúlio Vargas, esquina com a Osvaldo Cruz, onde funciona até hoje.
Poucos anos depois de montado, o armazém de Chico Pinto já era uma das maiores referências no comércio de estivas, cereais e bebidas da região, abastecendo dezenas de pequenos e médios estabelecimentos comerciais de Itaporanga e Vale.
Apesar da baixa instrução escolar (não concluiu o primário), era indiscutível sua habilidade para os negócios. Da prole de Belmiro Pinto foi o único que se fixou no comércio. “Meu pai não teve condições de formar todos os filhos, mas dois se tornaram médicos (Zé e Ulisses Pinto) e Chico entrou no comércio e foi bem-sucedido”, comenta o exprefeito de Itaporanga, Sinval Pinto, o único dos filhos de Belmiro a experimentar a política partidária.
Os outros filhos de Belmiro e Antônia Pinto de Sousa são Socorro, Lenice (falecida), Valdenir, Luzia, Terezinha (falecida) e Antônio Pinto. “Chico sempre foi um homem reservado, e nunca gostou muito de festa: eu me lembro que no carnaval de 1941, enquanto toda a juventude estava na folia, ele foi para o sítio”, recorda ainda Sinval. Talvez por isso tenha se casado somente aos 27 anos, um pouco tarde para o costume da época, mas o importante é que encontrou e conquistou a mulher (Maria Vanderli Leite Pinto) que o acompanha há 58 anos e lhe deu oito filhos.
Em 1967, Chico Pinto passou a residir em Campina Grande para que os filhos pudessem seqüenciar seus estudos, mas continuou no comércio e cresceu ainda mais nas décadas de 70 e 80, quando instalou a Antarctica em Itaporanga, uma das maiores representações da marca do sertão paraibano.
“Ele ficou entre Campina e Itaporanga, passava dez ou quinze dias aqui e igual período lá, até 1995, quando se afastou definitivamente do comércio por conta da idade e o entregou aos filhos”, informa Luiz Alvarenga, que há três décadas gerencia o armazém construído por Chico há mais de 60 anos e que hoje chama-se São Paulo e é de propriedade de Paulo Pinto, um dos seus dois filhos que também enveredaram pelo comércio.
O outro é Francisco, que, apesar de formado em medicina, a exemplo de três outros irmãos (Orlando, Murilo e Luciene), optou pelo ramo dos negócios. Os demais filhos de Chico são Lúcia, Luíza e Ernesto Pinto. Chico Pinto, que completará 85 anos no dia 20 de agosto, continua residindo com a esposa em Campina Grande. Apesar da idade avançada e de alguns problemas de saúde, está lúcido. A última vez que visitou Itaporanga, a terra onde nasceu e progrediu, foi em 2007.
Mas a terra que lhe de um prestígio e fortuna também teve suas recompensas: os empregos e impostos gerados por Chico Pinto e todo o capital que seu negócio atraiu para a cidade foram contribuições importantes para Itaporanga, embora os maiores investimentos de Chico tenham sido em Campina Grande.
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