Ao iniciar deste dia, nosso pensamento se eleva a Deus, Todo-Poderoso, para escutar Sua Palavra , através da Primeira Leitura da Liturgia de hoje:
“Cuida de ti mesmo e daquilo que ensinas. Mostra-te perseverante. Assim te salvarás a ti mesmo e também àqueles que te escutam.” (1 Timóteo 4, 16)
Impossível não visitar a chapada da Serra do Cantinho, olhando para nossa Itaporanga, e não sermos conduzidos a Deus, ao menos em pensamento.
Primeiro porque nos enche os olhos a magnífica estátua do Cristo Redentor, que de braços abertos, acolhe nossos sonhos, nossas alegrias, nossas tristezas, nossos sofrimentos.
Depois porque, olhando para o horizonte, podemos contemplar mais claramente a beleza da criação, fruto exclusivo da bondade de Deus.
Finalmente porque, olhando para a lápide que lá está, com os olhos marejados, contemplamos a sepultura de um grande homem.
A liturgia de hoje nos põe a refletir sobre a demonstração de amor. Diz Jesus, no Evangelho de hoje, que nossos pecados são perdoados na proporção em que demonstramos nosso amor. E adverte: quem perdoa pouco é porque não tem muito amor (Lc 7, 47).
Nesse sentido, em sua Primeira Carta a Timóteo, São Paulo nos encoraja a cuidar de nós mesmos e de nossos ensinamentos com o devido amor e com perseverança, afim de nos salvar e salvar àqueles que nos tiverem escutado (1 Tm 4, 16).
A partir de então, cabe-nos uma pergunta: o que significa esse amor que perdoa e essa perseverança no cuidado para conosco e com nossos atos?
A chave para essa questão está no Salmo 110, que a liturgia nos propõe para hoje: “Temer a Deus é o princípio do saber” (Sl 110, 10). Significa que o verdadeiro amor, o amor que ensina, perdoa e salva, é aquele provindo de Deus, que se manifesta no coração daquele que o teme e escuta.
Nosso amado Padre Zé foi um homem que amou muito e perdoou demais. Como poucos, ele temeu a Deus e, por conseguinte, foi laureado pela sabedoria Divina. Inquestionavelmente, Padre Zé seguiu à risca a exortação de São Paulo: foi perseverante e ofereceu-nos, ao seu rebanho, a salvação que desejava para si.
Muito amor demonstrado. Não há outra forma de traduzir o legado do grande padre que Deus enviou à nossa cidade.
Ele acendeu muitas lâmpadas em nosso meio. Semeou a boa semente. Foi servo bom e precavido. Foi sacerdote do Altíssimo que completou heroicamente a sua carreira.
São Lucas, em seu Evangelho de hoje, conforta-nos com a promessa do Mestre: “Tua fé te salvou” (Lc 7, 50). E nos cabe a pergunta: quantas almas o nosso Padre Zé não ganhou para Deus? E, passando da seara religiosa, quantas vidas Padre Zé não revigorou através da educação, da música, do trabalho, ou, simplesmente, dos rotineiros conselhos que a todos dirigia?
E quando Itaporanga se viu em direção a intermináveis contendas familiares, sufocando a paz de várias gerações, não foi o nosso Padre Zé que buscou de Deus as forças necessárias para semear a semente de paz entre nós?
Isso é demonstrar amor: reunir famílias, refazer a paz, ser “construtor de pontes” – pontífice – entre Deus e Seu povo.
E não foi a custo pequeno: Padre Zé não foi unânime. Seus críticos hoje se calam. Mas ele foi muitas vezes apontado como retrógrado, muitas vezes foi caluniado, muitas vezes foi humilhado, muitas vezes sentiu na pele o que nosso povo humilde passa no dia-a-dia de suas mazelas. Tudo, porém, por demonstração de muito amor, foi devidamente perdoado, afinal, quem muito perdoa é porque muito ama.
Por isso, como fiz já no passado, devo repetir com certeza ainda maior: definitivamente, Itaporanga não seria a mesma se lá na Serra do Cantinho não tivesse aquele túmulo, dando testemunho que um homem, um grande homem, clamando por Deus, trouxe Deus ainda mais perto do ser humano.
Nossa geração deve compara-se aos homens como Padre Zé: autêntico, cheio de fé e astuto no agir.
Neste 19 de setembro, não temos o que chorar!
Temos que agradecer ao Senhor pela dádiva que nos deu.
Hoje, a luz que o nosso Padre Zé nos indicou o ilumina. Rezemos para que também nós, com ele, contemplemos a alvorada do Senhor.
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