quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Os pés de Manga de Zé Lúcio


O cercado ficava no meio do baixio da pequena propriedade chamada Cantinho; Cantinho de Baixo, pois o de Cima era bem maior, chegando a primeiro distrito de Itaporanga, depois que foram emancipadas as hoje cidades circunvizinha, no início da década de sessenta.

Era um cercado pequeno, tinha algumas leiras de macaxeira rosa e salvo engano, t^res ou quatro pés de manga, onde o último se destacava, não apenas por ser o maior entre eles, mais por produzir as maiores mangas e as mais doces, era o pé de manga de Vô Zé Lucio.

Zé Lucio era um caboclo lazarino, de mais ou menos 1,70 de altura e menos de sessenta quilos, o que o tornava um homem magro; era cheio de lorotas, e toda vez que chupo manga espada, lembro-me dos seus muitos causos.

Gostava de ir pra o Sitio Retiro, que foi do seu sogro Manoel Inácio, onde tinha muitos pés desta fruta gostosa. Lá chegava muito cedo, por volta das cinco horas e juntava as mangas caídas durante a noite e madrugada, ainda friinhas do orvalho da manhã e fazia uma “ruma” de umas vinte, aí se acocorava junto ao monte e começava a chupá-las e quando jogava as casca da última manga, olhava com desdém para, agora a “ruma” de cascas e caroços e afirmava: “Num vale merda, perdi meu tempo!”


Meu Avô, já bem entrado na idade, seu filho Esmerino, casado com Biata, ainda morava em uma casa, de onde se avistava todo o baixio da propriedade; e Mero, como ´e carinhosamente chamado atá hoje, tem uma filha por nome de Aurimar, uma das mais velhas do casal.

Um certo dia, mestre Zé Lucio, estava a tomar um cafezinho feito com coador de pano e torrado e moído na hora e em casa; sentado nas cadeiras postas por sua nora, em frente a casa, quando de repente, espiou pro lado do cercado e com as “oiças” não muito boas, indagou: “Espere, tem alguém debaixo dos meus pés de manga!?”, no que foi prontamente respondido por Biata: “É Aurimar!” e mestre Zé Lucio soltou: “Ta bebo, Animá não, aquilo é gente!”

Tempos bons aqueles, pena que não voltam mais. Ficaram só na lembrança!

Paulo Rainério

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More