sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Luis Zaquié


FIGURAS FOLCLÓRICAS DE ITAPORANGA

Nos anos 70, o hoje bacharel em direito o Dr. Anchiêta Olegário, o Nêgo Chiêta, como era conhecido à época, na sua peculiar verve artística e humorística fez este poema em homenagem a uma grande figura folclórica de nossa terra, Luis Zaquié ou Bentiví como era conhecido na intimidade.

Luis Zaquié durante muito tempo teve em Itaporanga uma casa de jogo de baralho, que Chiêta intitulo de Nim (ninho) do Bentiví. Luís no final da vida deixou a boêmia e passou a ser evangélico, até a sua morte.

A Falência do Jogo de Luis de Zaquié 
(Anchieta Olegário)

Aqui está a estória,
Numas quadrinhas que fiz
Que conta toda tragédia
Do jogo de seu Luis
E não é mentira minha
Pois tudo nestas quadrinhas
É ele próprio quem diz

Na cidade Itaporanga
Existe um homem distinto
Tinha uma casa de jogo
Todos sabem que não minto
Sou testemunha e dou fé
Que seu Luis Zaquié
Era o dono do recinto

Num dia de sexta-feira
Seu Luis se acordou
Ajeitou os tamboretes
A mesa, ele forrou.
Embolsou o seu dinheiro
Convidou seus companheiros
E o jogo começou

Eram quase nove horas
Quando Caxita chegou
Entrou no jogo também
Todo mundo concordou
Por volta de 11 horas
Todo mundo foi embora
Seu Luis se apavorou

Pois lhe restava dinheiro
E não era hora exata
De todo mundo ir embora
Isso era coisa chata
Depois que “lavaram a jega”
No jogo, os seus colegas.
Fizeram uma coisa ingrata

Mas veja, por sorte dele.
Chegou Luis Jabobeu
Com três amigos na frente
Água ali, ele bebeu.
Convidou o seu Luis
Isto foi o que ele quis
E o jogo renasceu

De repente, por azar.
Chegou o José Sertão
O vulgo José Pibite
Com dez cruzeiros na mão
Seu Luis desconfiou
E bem baixinho falou:
Vai haver uma confusão

Zé Pibite amolecado
Botou a mão na maleta
Olhou para Jabobeu
E fez logo uma careta
Daí falou Bem-te-vi
Tira tua mão daí
Zé da venta de corneta

E veja, por sorte dele.
Chegou o Zé Beliscada
Com um bule de café
Para toda macacada
Começou “apiruar”
Seu Luis pra chatear
Soltou esta piada:

Se tem dinheiro se sente
Pois meu negócio é assim
Não vê que nesta tamanca
A coisa não tá pra mim?
Se quiser vamos jogar
Ou vá logo “apiruar”
Lá no jogo de Joaquim...(Joaquim Felicidade)

Só assim você arranja
”A tampa do tabaqueiro”
Joaquim é um cara bom
Mas pra isto ele é matreiro
Nunca botou mão no fogo
E só entra no seu jogo
Aquele que tem dinheiro

O jogo pra seu Luis
Tava ruim como angu
Falou para Jabobeu
Não me resta um tutu
Nesta partida me “ frago”
Seguido preto que trago
É o buraco do c*

Terminada a partida
Seu Luis foi quem ganhou
Do tamborete que tava
Jabobeu se levantou
Deu um peido fedorento
Seu Luis, neste momento
Nele, o baralho jogou

Por volta de uma hora
Seu dinheiro se acabava
Sem nenhum “xêm-xêm” no bolso.
Seu Luis se “espritava”
Dizendo: “é desaforo!"
E quanto mais dava o "chôro"
Jabobeu lhe aperriava

Eu hoje to de azar
Porém não sei o que é
Pra encurtar a conversa,
Tô com uma “bicheira” no pé
A sorte prá mim tá torta
Eu vou é fechar a porta
E ir lá pro cabaré

E assim aconteceu
Se mandou prá´queles lados
Com meia hora depois
Já estava embriagado
Vinha quase no empurro
Falou para Zé do Burro:
Meu amigo, tô lascado.

Me empresta um conto aí
Prá eu tirar a ressaca
Entrei no jogo bem cedo
Mas só fiz papel de vaca
Só fiz “cagar no rejeito”
Vê se tu me dá um jeito
D’eu sair desta ticaca

Jabobeu e Zé Pibite
Fizeram de mim, menino.
Vou falar com mestre Agapto
E com Abdon Tolentino
Subiram no “meu poleiro”
Carregaram meu dinheiro
Que dupla de assassinos!

Sabe de uma coisa?
Eu mudei de opinião
Eu vou vender aquele jogo
Que prá mim não dá mais não
Já cheguei a oferecer
E acho que vou vender
A Zeca da Encarnação

Zeca comprou o seu jogo
Como quem compra fumaça
Ele pegou o dinheiro
Comprou um chapéu de massa
Gastou um pouco fumando
Outro pouquinho jogando
E o resto de cachaça

Entrava num bar e noutro
Olhando sempre prá trás
Dizendo aquelas poesias
Daquelas que ele faz
Sempre com o seu talento
Dizendo digo e sustento:
Já bebi, não bebo mais!

Seu Luis ficou quebrado
Seus amigos foram embora
E ele desesperado
Os seus” teréns” jogou fora
Dizendo sempre consigo
O que é que meus amigos
Vão dizer de mim agora?

Vão dizer que tô quebrado
De nada disso duvido
Pode falar quem quiser
Prá nada disso dou ouvido
Tudo prá mim é boato
Meu medo é de Nem Morato
Me botar um apelido

E assim foi dito e feito
A história foi assim
Nem Morato quando soube
Tudo tim-tim por tim-tim
Começou a transmitir
Que pelaram o Bem-te-vi
E tocaram fogo no "nim".

Nada melhor de que uma pérola desta lavra para continuarmos homenageando aqueles que trabalham e deixam mais belas as palavras... Parabéns Nêgo Chiêta, nêgo da venta de...

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