segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Capitulo V - Biu de Dedé


No dia 28 de julho de 1976 eles se casaram; a lua-de-mel foi em Itaporanga. 
Para imitar os contos de fada poder-se-ia dizer: 
E FORAM FELIZES PARA SEMPRE! 
Todavia, isto ainda não pode ser dito por que eles não foram felizes. Eles são felizes e têm um sólido casamento, baseado no amor, no respeito mútuo e na criação de uma família bonita composta de três filhos: um homem e duas mulheres. 
O filho, Juninho, fez vestibular e começou a estudar agronomia. 
O pai sempre dizia que já estava ficando velho e quando o filho terminasse os estudos tomaria a direção das terras. 
Frequentou o curso por um semestre e propôs ao pai: 
- Paínho, por que irei passar cinco anos estudando o que não vou dar prosseguimento? Acho melhor parar agora e já começar a produzir; estarei usufruindo de sua presença e já começarei a fazer o meu pé-de-meia para despesas futuras. 
Biu concordou; como tinha uma olaria manual, entregou-a ao Junior que montou uma cerâmica na estrada que vai para Boa Ventura. 
Houve um acerto na escolha e o garoto teve sucesso, porém, aos 21 anos de idade foi detectada uma insuficiência renal bilateral havendo feito hemodiálise por longos sete anos até a efetuação do transplante renal. 
Tudo correu às mil maravilhas e hoje o Juninho está bem e é aquele que administra todos os negócios. 
Acabou o susto e o sofrimento, graças a Deus. 
Uma das filhas terminou os cursos de enfermagem alto padrão e bioquímica e a outra é bacharela em direito. 
A grande preocupação de Biu era constituir família aos 45 anos e não ter a oportunidade de vê-los formados, porém hoje, aos 84 anos além de ver realizado este sonho ainda tem a alegria de ver os netos e curtir esta família maravilhosa que constituiu. 
Os filhos são Severino Araújo Jr, o Juninho, Cristiane Fernandes de Araújo, enfermeira e bioquímica Cálida Geisa Fernandes de Araújo, Cacá, a advogada. 
Quando estive em João Pessoa entrevistei a Dra. Cacá, que foi analista do Ministério Público e hoje tem uma chefia de Direitos Humanos. Pedi que, pela ausência dos outros dois irmãos, ela os representasse e falasse em nome de todos. Ela disse textualmente: 
- Eu não sei como definir painho porque ele é tudo; é uma referência de vida como homem, como pai, como amigo. Sabe conversar uma conversa boa, plena, sem limites. Nunca bateu em um filho. 
Quando um de nós fazia uma arte ele procurava conversar e mostrar o erro; meu Deus, a lição dada era pior do que três surras! 
Certa vez, quando morávamos na Rua Marquês de Herval, havia um pé de carambola na casa vizinha (de Irineu Jr e Telma Crisanto) e os galhos pendiam para o nosso quintal com muitas carambolas pedindo para serem comidas. O meu pai não nos deixava apanhá­las porque não nos pertencia. Hoje, como advogada, sei que o aquilo que cai para cá pertence a este aqui, mas, agora não dá mais para voltar à infância e argumentar com ele, contudo, a lição de honestidade é a riqueza que ficou em nossas cabeças. 
A paciência dele é ilimitada. Uma vez estávamos comemorando alguma data e estavam presentes Divaldo da tecelagem, Adriano, meu marido (neto de Arizim e filho de Bianca), meu sogro e alguns parentes; todos já tinham bebido muito e o sentido de ritmo e entoação musical já tinham desaparecido da cabeça do pessoal. Painho pegou a sanfona e, pacientemente, começou a acompanhar, porém, cada um queria cantar a sua música ao mesmo tempo e cada um cantava mais alto do que o outro; então, eu disse: - Painho, está difícil de acompanha-los e ele respondeu: - “com paciência a gente chega lá!” 
Quando começávamos a discutir sobre alguém, ele nos dizia: “se você não tem nada a dizer de bem sobre esta pessoa não diga nada para ofender; fique calada!” 
A regra da casa era só namorar depois dos 15 anos e eu contrariei a regra. Arranjei uma paquera aos 14 anos e meio e fiquei mortificada de como contaria para o meu pai; contei para mamãe que ficou muito brava dizendo que eu tinha desrespeitado a regra e que deveria contar para papai. Não sei o que me levou a beijar o garoto e depois contar. Ele disse: “é assim mesmo, minha filha, o mundo já está mais moderno, não faz tanta diferença assim; mas faz o seguinte: diga ao rapaz para esperar mais seis meses até você completar quinze anos para continuar este beijo”. Deu vontade de rir, porém foi contar para o rapaz e o namoro desandou, mas, não perdi grande coisa.  
Ele sempre venceu com mansidão e sabedoria. 
Nunca foi ambicioso, egoísta ou vaidoso. Procurou sempre ajudar os outros. Também está sempre atualizado, basta analisar esta máxima dele; “A juventude de hoje é bem diferente; no meu tempo a gente opinava no namoro das irmãs e das filhas, porém, como tudo evoluiu e é mais independente, procuro não dá conselho nesse assunto e não dizer nada porque não serei contrariado já que, certamente, não vou ser obedecido.” 
Junior conta um fato interessante acontecido quando estudava em João Pessoa. 
Biu foi fazer uma visita habitual aos filhos que estudavam na Capital; nesta ocasião estava havendo uma exposição de gado bovino e lá se foram eles vê-la. 
Havia um bezerro da raça nelore que chamava bem a atenção das pessoas pela sua morfologia diferenciada; era realmente um animal muito bonito; de uma compleição mais forte e um porte mais nobre. 
Painho se entusiasmou com o animal, principalmente, porque ele se aproximou mansamente como que dizendo: vai me levar? 
Painho manifestou o desejo de comprá-lo, mas, ponderou que aquele não seria o momento financeiro adequado. No meu íntimo, gostaria de ter podido comprar e presenteá-lo, todavia, eu era ainda estudante e não tinha como sonhar tal alto. 
O tempo passou. 
Comecei a trabalhar e, em determinada época, por volta de 2001, fui a uma exposição em Campina Grande e me lembrei daquele fato em que vi nos olhos de meu pai a vontade de comprar aquele animal e, pelas despesas para custear os nossos estudos, ele deixou um sonho morrer. 
Era, agora, a minha vez de recompensá-lo de tamanho sacrifício. 
Procurei um garrote com as mesmas características, que fosse tão forte e bonito como aquele de outrora e o encontrei. 
Não perguntei preço, o meu pai sempre mereceu o melhor e mais alguma coisa. 
Levei o animal para Itaporanga e o escondi na fazenda Malhada 
Grande do Tio Vando para fazer uma surpresa de aniversário. Foi um trabalho insano que este garrote deu e que agradeço a paciência e boa vontade de Tio Vando que o abrigou por todo este tempo. 
No dia do aniversário, enquanto as pessoas cantavam parabéns no interior da casa, eu organizava o traslado deste garrote em completo segredo e o deixei amarrado em frente à casa. 
Quando Painho saiu para o terraço e se deparou com o animal viajou no tempo e entendeu todo o esforço empregado para que ele o tivesse em seu curral. 
Era uma surpresa como se fosse aquele garrote anterior. Foi uma das maiores emoções que vi no meu pai. 
Era um garrote que tinha registro e nome, porém, ficou conhecido com o nome de Segredo; tomou-se um belo touro e deixou uma excelente produção e, principalmente, grandes recordações.

Do livro Biu de Dedé

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