domingo, 1 de março de 2015

Homenagem a Padre Zé - III

Continuação...


Eu mesmo participei 
Daquela celebração 
Lembro que tinha uma pedra 
O marco da construção 
Ele mostrava pra gente 
Feliz e muito contente 
O lugar da fundação 
E já na segunda feira 
Ele contratou alguns pedreiros 
E começou cavar o chão. 

E desse dia pra cá 
Sua obra começou 
O sonho de muitos anos 
Do papel se transformou 
Em coluna de concreto, 
Ferro e outros objetos 
Que a construção exigia 
E ele pra lá e pra cá 
Mais não deixava faltar 
O que os pedreiros queriam. 

A obra continuou 
E os pedreiros animados 
Os carpinteiros também 
Que ganhavam o seu trocado 
Só que um imprevisto aconteceu 
As estruturas se romperam 
Da Igreja do Rosário 
Com o tempo veio abaixo 
Sorte que estava vazia 
Se não tinha sido um desastre. 

Mais um grande desafio 
Que Padre Zé enfrentou 
Teve que parar as obras 
Lá do Cristo Redentor 
Ele a cabeça coçava 
Não sei o que nela passava 
Qual era o seu pensamento 
Era preocupação 
De ver a igreja no chão 
Onde celebrou tanto tempo. 

O Padre nunca foi homem 
De esmorecer, nem fraquejar 
Trouxe pedreiro e servente 
Todos do Cristo pra cá 
Pra retirem o entulho 
Sem fazer muito barulho 
Pra os vizinhos não incomodar 
Mais uma nova batalha 
Na sua vida de luta 
Ele teve que enfrentar. 

Era mais um desafio 
Que em sua vida surgiu 
Reconstruir a igreja 
Que com o tempo caiu 
O Padre ficou meio triste 
Parar as obras do Cristo 
Não estava nos seus planos 
Mais se Jesus quis assim 
O Cristo pode esperar 
Mais uns quatro ou cinco anos. 

E foi assim que ele fez 
A obra do Cristo parou 
Todo preocupado 
Pra velha igreja voltou 
Não sei mais por quanto tempo 
Só sei que do mesmo jeito 
A nossa igreja ficou, 
Não ficou nada manchado 
Até a velha fachada 
Com a mesma tinta pintou 

Mais um obstáculo vencido 
Na sua vida de luta 
A igreja estava em pé 
Às vezes a gente ainda escuta 
Quando alguém olha e comenta 
Padre Zé trouxe a semente 
Do trabalho e semeou 
Aqui em nossa cidade 
Só temos prosperidade, 
Trabalho, paz e amor 

Foi isso que Padre Zé 
Nessa cidade plantou 
Sementes que deu bons frutos 
Tudo sempre prosperou 
Posso dizer para vocês 
Ninguém faz o que ele fez, 
Porque ele fez com amor 
Hoje a cidade agradece 
E todo mundo reconhece 
Os feitos de um benfeitor 

Não foram só as grandes obras 
Que ele realizou 
Também a banda de música 
Que pra nós ele deixou 
Cônego Manoel Firmino 
Eu ainda era menino 
Ao ver ficava encantado 
Um deles eu queria ser 
Mais nunca tive o prazer 
De ter um instrumento dourado 

Hoje eu sinto saudades 
De quando a banda desfilava 
Cinco horas da manhã 
Nas avenidas passava 
Eles tocavam nos ritmos 
Aqueles toques bonitos 
Que as pessoas encantavam 
Todos ficavam contentes 
De ver Padre Zé na frente 
E a banda acompanhava. 

Outro presente que o padre 
Pra nós resolveu deixar 
Para prestar os serviços 
Aqueles  que precisarem 
Serviços de impressão 
Livro, cordel e cartão 
Ninguém fazia melhor 
Do que Paulo, Chico e Sales 
Que trabalhavam na gráfica 
Do Vale do Piancó 

Assim o tempo passava 
Um ano entrava e outro saia 
Padre Zé muito insistente 
Ele nunca desistia 
De realizar seu sonho 
Era ousado, mais possível 
Era o que ele dizia 
Mais à vontade dele era ver 
Aquela estatura se erguer 
Pouco a pouco, dia a dia. 

E recomeçou a obra 
Com muita dificuldade 
A passos de tartaruga 
Só mesmo com a vontade 
Porque dinheiro não tinha 
Quando entrava qualquer quantia 
Que os dizimistas pagavam 
Ficava sem seu salário 
Mais pagava aos pedreiros 
Que no Cristo trabalhavam 

E assim dessa maneira 
Muito tempo se passou 
Mais um homem que tem fé 
Jesus sempre lhe ajudou 
Ele era muito otimista 
Com as pessoas pessimistas 
Ele nunca se importou 
Levava seu sonho em frente 
Vou mostrar pra essa gente 
O santo Cristo Redentor 

Mais o tempo se passou 
E seu sonho aconteceu 
A estatua estava pronta 
Eu sei o quanto ele sofreu 
Trabalhou anos e anos 
Sonhava e fazia plano 
Pra tudo isso acontecer 
Fez tudo com muito amor 
E a Jesus nosso Senhor 
Só nos resta agradecer. 

Ele era muito feliz 
Achava-se realizado 
Porque fez tudo que pode 
Para o bem dessa cidade 
E hoje o povo agradece 
Trabalhador dessa espécie 
Nunca vai existir dois 
Se existi não sei quem é 
Vivemos em torno de Padre Zé 
Antes, durante e depois.

Como tudo na vida passa 
Também seu tempo passou 
Com a velhice veio o cansaço 
Sua vista também faltou 
Mais ele não se entregava 
Da sua igreja cuidava 
Como ele sempre cuidou 
Só que o Bispo viu a necessidade 
De mandar pra essa cidade 
Outro padre sucessor. 

Mandou um padre pra cá 
Para substituir 
A lenda de todos os tempos 
Que já passou por aqui 
Foi o homem que mais fez 
Mais chegou a sua vez 
E a hora de parar 
Ele com muita tristeza 
Entregou a nossa Igreja 
Ao Padre Deuzimar. 

Ele não era mais o pároco 
Mais ainda celebrava 
Com muita dificuldade 
Sua vista lhe faltava 
O missal ele não via 
Mas lá na gráfica fazia 
Um jornal especial 
Que desse pra ele vê 
As letras grandes ele lê 
Tudo saia legal 

Ele estava na igreja 
Quase todo santo dia 
Quando ele não celebrava 
A missa ele assistia 
Ele ficava a vontade 
O Padre novo deixava 
Ele fazer o que quisesse 
Respeitava a sua idade 
E também suas vontades 
Do saudoso Padre Zé 

Isso foi por pouco tempo 
Logo ele adoeceu 
Mais a Dona Petronila 
Ligeiramente socorreu 
Levando para João Pessoa 
Ele com a aparência boa 
Com a gente ainda brincava 
Mais os médicos já sabia
Que o caso era de morte 
Logo, logo nós deixaria 
Fizeram todos exames 
Que a medicina exigia.

Ele teve uma melhora 
Voltar para casa queria 
Ficar perto dos amigos 
Ele era muito querido 
Tinha gente todo dia 
Mas agente só visitava 
Quem mesmo dele cuidava 
Era Dona Petroníla. 

A doença de Padre Zé 
Preocupou a cidade 
Todo mundo entristeceu 
Não se falava mais em nada 
Só em rezar e pedir a Deus 
Ajuda esse filho teu 
Que tanto nos ajudou 
Escuta a nossa voz 
Não tira ele de nos 
Te pedimos por favor 

Fizemos preces e mais preces 
Mais de nada adiantou 
Jesus precisava dele 
Por isso ele chamou 
Para ficar do seu lado 
Seu lugar tava reservado 
Do lado do Nosso Senhor 
No céu ele ia morar 
Sua hora vai chegar 
Infelizmente chegou. 

Dezenove de setembro 
Do ano dois mil e seis 
Nunca esqueci essa data 
Também nenhum de vocês 
De tudo que se passava 
Os sinos todos tocavam 
E a cidade toda entristeceu 
E todo mundo acordava 
Uns aos outros falavam 
Nosso Padre Zé morreu. 

Foram momentos de tristeza 
E de muita comoção 
O Vale todo chorava 
A morte de nosso irmão 
Que foi deixando saudades 
Tirando a felicidade 
Daqueles que o amavam
Deus fez o que era certo 
Se levou ele pra perto 
E porque Ele precisava.

Já estava consumado 
Do jeito que Deus pensou 
Sua missão aqui na terra 
Ele cumpriu com amor 
Não deixou nada a desejar 
Só nos só resta sepultar 
Onde ele sempre sonhou 
Foi feito a sua vontade 
Padre Zé foi sepultado 
Nos pés do Cristo Redentor 

Agora tudo acabou 
Só nos resta agradecer 
Ao homem que nos ensinou 
A honestamente, o viver 
Dele só resta à saudade 
Com muita dignidade 
De quem viveu sempre a dizer 
Sonhar nunca foi pecado 
Se a vida não tiver sonhos 
Não adianta viver 

Também quero agradecer 
A quem dele cuidou 
Que Deus possa abençoar 
Mais do que já abençoou 
Dando-lhe saúde e paz 
Pra que ela possa fazer mais 
Se alguém um dia precisar 
Que essa luz sempre brilhe 
Na vida de Petronila 
E nunca vai se apagar 

Agora vou terminar 
Esse pequeno cordel 
Quem sabe um dia o encontramos 
Quando chegar lá no céu 
Ai poderemos conversar 
Dos velhos tempos lembrar 
Que isso foi o destino 
Nossas vidas é uma passagem 
Essa é uma pequena homenagem 
Do poeta Bernardino 

Homenagem a Padre Zé - cordel do poeta Bernardino Pinto

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