Continuação...
Eu mesmo participei
Daquela celebração
Lembro que tinha uma pedra
O marco da construção
Ele mostrava pra gente
Feliz e muito contente
O lugar da fundação
E já na segunda feira
Ele contratou alguns pedreiros
E começou cavar o chão.
E desse dia pra cá
Sua obra começou
O sonho de muitos anos
Do papel se transformou
Em coluna de concreto,
Ferro e outros objetos
Que a construção exigia
E ele pra lá e pra cá
Mais não deixava faltar
O que os pedreiros queriam.
A obra continuou
E os pedreiros animados
Os carpinteiros também
Que ganhavam o seu trocado
Só que um imprevisto aconteceu
As estruturas se romperam
Da Igreja do Rosário
Com o tempo veio abaixo
Sorte que estava vazia
Se não tinha sido um desastre.
Mais um grande desafio
Que Padre Zé enfrentou
Teve que parar as obras
Lá do Cristo Redentor
Ele a cabeça coçava
Não sei o que nela passava
Qual era o seu pensamento
Era preocupação
De ver a igreja no chão
Onde celebrou tanto tempo.
O Padre nunca foi homem
De esmorecer, nem fraquejar
Trouxe pedreiro e servente
Todos do Cristo pra cá
Pra retirem o entulho
Sem fazer muito barulho
Pra os vizinhos não incomodar
Mais uma nova batalha
Na sua vida de luta
Ele teve que enfrentar.
Era mais um desafio
Que em sua vida surgiu
Reconstruir a igreja
Que com o tempo caiu
O Padre ficou meio triste
Parar as obras do Cristo
Não estava nos seus planos
Mais se Jesus quis assim
O Cristo pode esperar
Mais uns quatro ou cinco anos.
E foi assim que ele fez
A obra do Cristo parou
Todo preocupado
Pra velha igreja voltou
Não sei mais por quanto tempo
Só sei que do mesmo jeito
A nossa igreja ficou,
Não ficou nada manchado
Até a velha fachada
Com a mesma tinta pintou
Mais um obstáculo vencido
Na sua vida de luta
A igreja estava em pé
Às vezes a gente ainda escuta
Quando alguém olha e comenta
Padre Zé trouxe a semente
Do trabalho e semeou
Aqui em nossa cidade
Só temos prosperidade,
Trabalho, paz e amor
Foi isso que Padre Zé
Nessa cidade plantou
Sementes que deu bons frutos
Tudo sempre prosperou
Posso dizer para vocês
Ninguém faz o que ele fez,
Porque ele fez com amor
Hoje a cidade agradece
E todo mundo reconhece
Os feitos de um benfeitor
Não foram só as grandes obras
Que ele realizou
Também a banda de música
Que pra nós ele deixou
Cônego Manoel Firmino
Eu ainda era menino
Ao ver ficava encantado
Um deles eu queria ser
Mais nunca tive o prazer
De ter um instrumento dourado
Hoje eu sinto saudades
De quando a banda desfilava
Cinco horas da manhã
Nas avenidas passava
Eles tocavam nos ritmos
Aqueles toques bonitos
Que as pessoas encantavam
Todos ficavam contentes
De ver Padre Zé na frente
E a banda acompanhava.
Outro presente que o padre
Pra nós resolveu deixar
Para prestar os serviços
Aqueles que precisarem
Serviços de impressão
Livro, cordel e cartão
Ninguém fazia melhor
Do que Paulo, Chico e Sales
Que trabalhavam na gráfica
Do Vale do Piancó
Assim o tempo passava
Um ano entrava e outro saia
Padre Zé muito insistente
Ele nunca desistia
De realizar seu sonho
Era ousado, mais possível
Era o que ele dizia
Mais à vontade dele era ver
Aquela estatura se erguer
Pouco a pouco, dia a dia.
E recomeçou a obra
Com muita dificuldade
A passos de tartaruga
Só mesmo com a vontade
Porque dinheiro não tinha
Quando entrava qualquer quantia
Que os dizimistas pagavam
Ficava sem seu salário
Mais pagava aos pedreiros
Que no Cristo trabalhavam
E assim dessa maneira
Muito tempo se passou
Mais um homem que tem fé
Jesus sempre lhe ajudou
Ele era muito otimista
Com as pessoas pessimistas
Ele nunca se importou
Levava seu sonho em frente
Vou mostrar pra essa gente
O santo Cristo Redentor
Mais o tempo se passou
E seu sonho aconteceu
A estatua estava pronta
Eu sei o quanto ele sofreu
Trabalhou anos e anos
Sonhava e fazia plano
Pra tudo isso acontecer
Fez tudo com muito amor
E a Jesus nosso Senhor
Só nos resta agradecer.
Ele era muito feliz
Achava-se realizado
Porque fez tudo que pode
Para o bem dessa cidade
E hoje o povo agradece
Trabalhador dessa espécie
Nunca vai existir dois
Se existi não sei quem é
Vivemos em torno de Padre Zé
Antes, durante e depois.
Como tudo na vida passa
Também seu tempo passou
Com a velhice veio o cansaço
Sua vista também faltou
Mais ele não se entregava
Da sua igreja cuidava
Como ele sempre cuidou
Só que o Bispo viu a necessidade
De mandar pra essa cidade
Outro padre sucessor.
Mandou um padre pra cá
Para substituir
A lenda de todos os tempos
Que já passou por aqui
Foi o homem que mais fez
Mais chegou a sua vez
E a hora de parar
Ele com muita tristeza
Entregou a nossa Igreja
Ao Padre Deuzimar.
Ele não era mais o pároco
Mais ainda celebrava
Com muita dificuldade
Sua vista lhe faltava
O missal ele não via
Mas lá na gráfica fazia
Um jornal especial
Que desse pra ele vê
As letras grandes ele lê
Tudo saia legal
Ele estava na igreja
Quase todo santo dia
Quando ele não celebrava
A missa ele assistia
Ele ficava a vontade
O Padre novo deixava
Ele fazer o que quisesse
Respeitava a sua idade
E também suas vontades
Do saudoso Padre Zé
Isso foi por pouco tempo
Logo ele adoeceu
Mais a Dona Petronila
Ligeiramente socorreu
Levando para João Pessoa
Ele com a aparência boa
Com a gente ainda brincava
Mais os médicos já sabia
Que o caso era de morte
Logo, logo nós deixaria
Fizeram todos exames
Que a medicina exigia.
Ele teve uma melhora
Voltar para casa queria
Ficar perto dos amigos
Ele era muito querido
Tinha gente todo dia
Mas agente só visitava
Quem mesmo dele cuidava
Era Dona Petroníla.
A doença de Padre Zé
Preocupou a cidade
Todo mundo entristeceu
Não se falava mais em nada
Só em rezar e pedir a Deus
Ajuda esse filho teu
Que tanto nos ajudou
Escuta a nossa voz
Não tira ele de nos
Te pedimos por favor
Fizemos preces e mais preces
Mais de nada adiantou
Jesus precisava dele
Por isso ele chamou
Para ficar do seu lado
Seu lugar tava reservado
Do lado do Nosso Senhor
No céu ele ia morar
Sua hora vai chegar
Infelizmente chegou.
Dezenove de setembro
Do ano dois mil e seis
Nunca esqueci essa data
Também nenhum de vocês
De tudo que se passava
Os sinos todos tocavam
E a cidade toda entristeceu
E todo mundo acordava
Uns aos outros falavam
Nosso Padre Zé morreu.
Foram momentos de tristeza
E de muita comoção
O Vale todo chorava
A morte de nosso irmão
Que foi deixando saudades
Tirando a felicidade
Daqueles que o amavam
Deus fez o que era certo
Se levou ele pra perto
E porque Ele precisava.
Já estava consumado
Do jeito que Deus pensou
Sua missão aqui na terra
Ele cumpriu com amor
Não deixou nada a desejar
Só nos só resta sepultar
Onde ele sempre sonhou
Foi feito a sua vontade
Padre Zé foi sepultado
Nos pés do Cristo Redentor
Agora tudo acabou
Só nos resta agradecer
Ao homem que nos ensinou
A honestamente, o viver
Dele só resta à saudade
Com muita dignidade
De quem viveu sempre a dizer
Sonhar nunca foi pecado
Se a vida não tiver sonhos
Não adianta viver
Também quero agradecer
A quem dele cuidou
Que Deus possa abençoar
Mais do que já abençoou
Dando-lhe saúde e paz
Pra que ela possa fazer mais
Se alguém um dia precisar
Que essa luz sempre brilhe
Na vida de Petronila
E nunca vai se apagar
Agora vou terminar
Esse pequeno cordel
Quem sabe um dia o encontramos
Quando chegar lá no céu
Ai poderemos conversar
Dos velhos tempos lembrar
Que isso foi o destino
Nossas vidas é uma passagem
Essa é uma pequena homenagem
Do poeta Bernardino
Homenagem a Padre Zé - cordel do poeta Bernardino Pinto
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