quarta-feira, 11 de março de 2015

Sepultada idosa que dedicou vida à educação de Itaporanga, e recebeu prisão como “recompensa”

Aos 81 anos e com problemas psiquiátricos, ela foi presa três vezes semanas antes de morrer

Por Redação da Folha – O cemitério de Itaporanga recebeu na manhã desta terça-feira, 10, o corpo da professora aposentada Ana Lopes da Silva, de 81 anos, que se dedicou tanto à educação local que esqueceu da própria vida: ela não casou nem teve filhos. De uma sala de aula cheia de alunos durante décadas, passou a sofrer com a solidão quando deixou o magistério.

Ela faleceu nessa segunda-feira, 9, em Campina Grande, onde estava em tratamento médico. Os últimos dias de vida da professora em Itaporanga não foram nada bons. Além dos graves problemas físicos, ela também sofria transtornos psiquiátricos, mas, sem tratamento nem a compreensão do meio social onde vivia, a idosa terminou se envolvendo em alguns problemas e sofreu três prisões semanas antes de falecer.

Duas das prisões ocorreram no começo do mês passado, quando a professora, que residia na Av. Getúlio Vargas, se desentendeu com a promotora de Justiça da comarca local por causa de um carro estacionado em frente da casa da idosa, que terminou desacatando a promotora por esta ter se negado a remover seu veículo. Presa por homens da Polícia Militar, ela foi encaminhada à delegacia, retornando para casa depois de assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência.

No dia seguinte, por ordem da Justiça, teve sua casa ocupada por policiais, que encontraram no interior do imóvel um revólver antigo, calibre 22, deixado pelo pai da idosa. Em função da posse da arma, Ana foi presa novamente e precisou pagar um salário mínimo de fiança para não ser recolhida à cadeia ou sofrer prisão domiciliar. Ela já havia sido presa uma primeira vez em função também de uma arma, foi mais um revólver herança da família. Transtornada, ela saiu com a arma para a calçada e terminou denunciada e presa.

A solidão, a depressão, os problemas físicos e emocionais e o constrangimento das prisões levaram ao agravamento do seu quadro clínico, e a professora não resistiu. O fim de uma mulher que ensinou muitas lições importantes ao longo da vida, mas não resistiu a um meio social tão cruel com idosos e doentes.

Publicado em 10-03-2015

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