Professora Laura Araújo: uma vida dedicada à educação |
A história da professora Laura
Araújo e a história da educação de Itaporanga durante quase todo o século vinte
mostram-se tão intrínsecas que, ao repórter, parece impossível falar de uma e
não tratar da outra. Ambas se reclamam e se unem de tal forma que se torna
ingênua e vã a tentativa redacional de separá-las.
Grande parte dos itaporanguenses
e boaventurenses alfabetizados e instruídos nas últimas cinco décadas do século
anterior passaram pelas mãos, ou melhor, pela palmatória de Laura Araújo. “Eu sempre
fui rígida com meus alunos, mas também sabia agradá-los e discipliná-los, e meu
método sempre foi eficaz para fazer o aluno aprender ler rápido”, comenta
sorridente a professora, que no dia 15 de novembro próximo fará 79 anos, mas a
lucidez e o carisma não envelhecem no rosto da educadora.
Filha da dona de casa Alexandrina
Araújo e do agricultor Adauto Antônio Araújo, um dos primeiros presidentes da Câmara
Municipal de Itaporanga e que dá nome ao legislativo, Tia Laura, como era
tratada pelos seus alunos, nasceu em Serra Branca, hoje município de Santana
dos Garrotes e “foi lá onde eu conheci as letras, com o professor Miguel
Madeiro, e não era fácil conseguir professor naquele tempo, mas meu pai, apesar
de ser um homem analfabeto, sempre deu oportunidade aos filhos para estudar, e
dizia: eu sou analfabeto, mas vou deixar o meu nome; façam também o nome de
vocês”.
Laura Araújo seguiu à risca o
conselho do pai e cravou seu nome na história da educação de Itaporanga, mas
precisou vencer muitas batalhas para alcançar tudo o que conquistou em um tempo
em que o ensino era um privilégio de poucos, mas, ao mesmo tempo, um desafio que
poucos conseguiam vencer, mesmo os mais abastados. Ela chegou à cidade com oito
anos e no momento em que Itaporanga ganhava sua primeira grande escola pública:
o Dom Vital, hoje Simeão Leal. Foi uma feliz coincidência, mas não a única:
quando deixou o Simeão foi o tempo em que nascia o Padre Diniz, a primeira
escola secundária do município e uma das primeiras de todo o interior
paraibano.
A escola chegou por obra das
Irmães Missionárias Carmelitas no final da década de 40 com o objetivo de
formar professoras dada a carência de educadores, naquela época, nesta região.
Na foto da primeira turma de normalista de Itaporanga, diplomada em dezembro de1949,
aparecem 17 rostos femininos em preto e branco: um deles é o de Laura Araújo.
Ela se emociona ao falar desse tempo pela lembrança de algumas de suas amigas e
companheiras de formatura, entre as quais Adália Nitão, Emília Brasilino e
Maria Nazaré Lima, falecida este ano: “Nazaré foi uma grande professora e muito
minha amiga: eu senti muito sua morte”.
A missão de educar
Depois de formada, a professora
Laura passou a dar aula particular: montou uma escola onde hoje é o prédio da
Telemar/Oi e encaminhou à educação centenas de itaporanguenses. Depois foi contratada
pela Prefeitura de Boa Ventura para dar aula no sítio Nazaré, onde lecionou
durante uma década.
“Eram120 alunos e eu dava conta
de tudo sozinha: eu recebia crianças e jovens de todo canto e muitos vinham de
sítios distantes e até de outros municípios, como Diamante”, comenta a
professora, que, posteriormente, passou a trabalhar pelo Estado e voltou a
Itaporanga, onde lecionou no grupo Lindolfo Ramalho.
A aposentadoria não foi o fim de
sua trajetória educacional, mas o começo da concretização de um sonho: em 1981
fundou o Instituto Educacional Santa Mônica. O nome que deu à escola é uma
homenagem à santa de sua devoção e ao clube de mães que presidiu durante muito tempo
e que tinha a mesma denominação.
Laura Araújo lecionou em seu
instituto até 87. Deixou a sala de aula, mas não a escola, que é dirigida por
duas filhas (Verônica e Ritinha). “Essa escola é minha grande realização de
vida, é um orgulho para mim, porque educação é uma fonte santa”, enfatiza. E
para amenizar a saudade do tempo em que dava aula, de vez em quando ela entra
em uma sala para aconselhar os alunos e rezar com eles. Sua casa fica dentro da
escola e esse contato diário com a criançada é para “vovó Laura” um grande
prazer: “É a melhor felicidade da vida”.
Educadora por vocação
Viúva há 16 anos do agricultor
Manoel Sabino de Araújo, Laura Araújo teve cinco filhos: um homem e quatro
mulheres, três das quais seguiram os passos profissionais da mãe. “Mas eu
queria era que todos fossem professores”, diz a educadora, cuja maior preocupação
sempre foi fazer com que nenhuma criança ficasse fora da escola, a começar
pelos próprios filhos e sobrinhos. Não pôde educar o mundo inteiro, mas fez sua
parte na instrução de milhares de vidas durante meio século de lições bem dadas:
do ensino antigo ao moderno; da palmatória aos métodos mais evoluídos de
motivação para a aprendizagem.
Laura Araújo não é eterna, mas a
obra educacional que ergueu é imortal. Seu legado é uma árvore frutífera, que
continuará derramando sementes de saber por muitas gerações. Plantar uma escola
é uma contribuição indiscutível para o bem social.
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