Antonio ALMEIDA Cavalcante
A mais antiga do sertão e talvez a mais velha e pioneira da Paraíba, fundada em 14 de julho de 1964, quando Itaporanga ainda era regida pelos tabus e preconceitos conservadores e discriminatórios, surgiu, HÁ 50 ANOS, uma entidade que modificou a estrutura radical do seu sistema social, e moldou um comportamento marcante de uma nora era.
Estávamos em plena efervescência do período revolucionário, quando o Brasil, de joelhos e lágrimas no coração, trocou, na marra, a camisa auri-verde da democracia pela camisa verde-oliva-força da ilegalidade.
Foi nessa Itaporanga conturbada que houve uma verdadeira revolução social. Uma plêiade de jovens estudantes idealistas, embalada pelas músicas de protesto dos Beatles, dos Roling Stones, dos Roberto e Erasmo Carlos, cônscios de suas responsabilidades para com o futuro, fundaram uma associação sócio-cultural e recreativa que se chamou ACREI - ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA DOS ESTUDANTES DE ITAPORANGA -, unindo negros e brancos, pobres e ricos, derrubando barreiras e ditando novas normas de procedimentos.
Foi há muito tempo, e sua instalação oficial, sem muito protocolo, aconteceu nos salões do Atlântida Clube de Itaporanga.
E esse acontecimento veio, através da geração dos anos 60, para mudar os conceitos vigentes.
Sua primeira sede social foi no primeiro andar do prédio comercial de José Figueiredo, seu Zé de Nedês, na Avenida Getúlio Vargas. Ali, ao som quente dos “Velhinhos Transviados”, Roberto e Erasmo Carlos, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, e nas variedades musicais de “As 14 Mais”, brotaram os melhores e mais duradouros sonhos de amor - muitos hoje transformados em realidade - que ainda embalam nossas recordações.
A segunda sede social foi numa casa, sem grande espaço físico, na Avenida Pedro Américo, pequena demais para abrigar tamanho sonho. Mudamos, então, para o prédio de Biu de Dedé, um dos poucos que deram crédito aos estudantes, situado na Avenida Getúlio Vargas, próximo aos bares de Felinto Araújo e Zé Carneiro, refúgios primeiros de nossas alegrias e mágoas, onde misturávamos os enlevos de nossos amores correspondidos, não correspondidos e/ou rompidos.
Era o tempo da alegria, dos sonhos, dos motivos, cantados nas cordas do violão de Jesus Fonseca e na calidez da voz de ouro de Tiquinho Costa e outros astros que gravitavam em volta da ACREI... Era o tempo do amor, como na canção de Wanderleya.
Músicas que, abraçadas com a saudade, lembram a juventude distante, envolta nas brumas do tempo.
Ali, a ACREI realizou os famosos “assustados à média-luz”, com portas semi-cerradas, sendo o prato preferido para “malhação” dos pseudo-conservadores. Sabíamos, porém, que dançar à meia luz, na penumbra, era mais transparente, mais límpido, do que os pensamentos e ações retrógradas da ainda provinciana Itaporanga, resquício hereditário da velha Misericórdia.
Realizamos, quem há de esquecer, uma semana de festa - fato inédito no sertão - com total sucesso: do pic-nic nas “Carvalhadas” do Dr. Antonio Leite Montenegro, em Piancó, teatros, conferências, jogos esportivos, desfile de moda, e baile todas as noites com o conjunto de Saulo, de João Pessoa.
E o mais interessante é que tudo foi feito sem onerar o associado, com ajuda dos comerciantes, sem reuniões infrutíferas de Diretoria e, no final, um sucesso...
Na verdade, esse movimento fincou raízes e marcou uma nova era em Itaporanga, desde a criação da Escola de Samba “Sayonara” e o TEI - Teatro Estudantil de Itaporanga -, idealizados e dirigidos por mim, com a participação ativa da turma da mesma faixa etária dos anos 60.
Foram as sementes da ACREI que, amadurecidas no ventre do tempo, deram frutos e, sem sombra de dúvida, a célula mater que deu origem a ASFITA.
A análise criteriosa desse fenômeno, desse metabolismo, exige uma volta ao passado e uma observação do presente. O fenômeno social dessa transformação é uma realidade complexa, múltipla, variada e polifacética, encerrando o real e o ideal, combinando o material com o espiritual, o físico com o mental, em suma, a metamorfose do sonho.
É, pois, necessário sentir, pensar e querer o sonho para que ele continue através dos tempos, na trajetória transcendental do infinito da mente. E o sonho não acabará jamais, porque ele arranca o homem de sua insignificância e o transforma em gigante; não é um atributo e sim uma conquista da personalidade. Nada ou ninguém nasceu grande, mas fez-se grande, o que se consegue através do espírito, pelo trabalho, esforço e dedicação.
Precisamos compreender o sonho como ele é... Simplificá-lo, muitas vezes, é diminuí-lo, reduzi-lo, amputá-lo.
Assim, a compreensão da história da ASFITA exige a compreensão da época dos anos 60 e foi a chama do idealismo da ACREI que não se extinguiu e que deu origem a ela. A ASFITA é, indubitavelmente, uma extensão umbilical da ACREI.
Quem, aqui ou em qualquer parte, nessa Itaporanga enraizada nos diversos rincões do Brasil, não se considera sócio “ad aeternum” da ACREI ?
Quem não dançou em suas festas inolvidáveis, embalados pelos lindos sonhos da esperança, que jamais se diluirão na amplitude do pensamento?
A ASFITA, hoje, é o palco onde armamos os cenários de nossas recordações e revivemos as cenas magníficas de nossa juventude que não perderão suas cores, mesmo com o efeito implacável do tempo.
Aqui e agora, ACREI/ASFITA, ASFITA/ACREI, é uma realidade embalada nesse sonho de fé e esperança, e será a grande mensagem que se eternizará e perpetuará o nome de Itaporanga como um símbolo de grandeza e magnitude, traduzidos no amor e na dedicação de todos os seus filhos: ACREIANOS DE ONTEM, ASFITIANOS DE HOJE E SEMPRE !
Porque o sonho não acabará...
* Professor e escritor/autor do livro “VIDA CONTROVERTIDA.
Cordialmente,
Antonio ALMEIDA Cavalcante - 8811-3723
Rua José Ayres Lucena, 132- CEP- 58.075-540 - Geisel - J. Pessoa PB
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