sexta-feira, 24 de outubro de 2014

BRINCANDO DE RELEMBRAR.

Joaõ Deon Fonseca

Hoje é 20 de Junho de 1964, depois que nos mudamos para João Pessoa, onde moramos na Rua Afonso Campos, 153 – Centro, essa é a primeira vez que vou a Itaporanga passar as férias de Junho na casa das minhas tias: Bila e Maroquinha. São 04 horas da madrugada, o ônibus da IPALMA vai sair com destino a Conceição precisamente às 4,30, a minha poltrona é a 25 e vou viajar ao lado de Cecílio Vieira Fonseca Ramalho que vai até a cidade de Conceição bem depois de Itaporanga.

A parada do ônibus é bem em frente ao quartel de polícia na Praça Pedro Américo, um aglomerado de pessoas, a maioria estudante, se encontra no local esperando a partida, entre essas pessoas posso ver: João Araújo, Sizenando Mendes, Ricardo Loureiro de Piancó, Manoel Boi também de Piancó, Geraldo Procópio de Olho d’Água, o Moco de Conceição, Nenivaldo de Ibiara, Janduy Penosa de Caiana, Plínio Ramalho de Bonito entre os mais de 45 passageiros que embarcarão no “BUSÃO” (que naquele tempo era mais conhecido como “SÔPA”) e que o fizeram superlotar o transporte. A partir da saída do ônibus tudo é diversão e tudo é piada: enquanto João Araújo tenta tirar um cochilo, Janduy Penosa, juntamente com o Moco, colocam um mosquito no braço do pequeno João e em pouco tempo ouve-se o grito de dor e as lamúrias do mesmo dizendo que quando voltar das férias vai cortar a bolsa de estudos de todos, bolsa essa que o Deputado Teotônio dá, cujo encarregado é ele, João.

Daqui a pouco Cecílio com um violão afinadíssimo solta a voz privilegiada que Deus lhe deu e lá atrás Ricardo Loureiro abre um garrafa de cana e juntamente com Mané Boi começam a tomar as primeiras do dia. O tempo passa, já são 8:00 horas, o ônibus começa a entrar na Cidade de Campina Grande e se dirige a antiga rodoviária e ali entram mais uns 15 passageiros entre eles estão: Vandui Cabral e Valdeck Cabral que vieram de Bananeiras pegar o ônibus em Campina, também entra ali Antonio Arivan, Antonio Diniz, Aderbal Pinto, Emerson Diniz e a algazarra aumenta, aumentando também a vontade de chegar a Itaporanga.

Daí em diante a estrada é totalmente de terra, trepidação, buraco e poeira serão também companheiros de viagem e lá por volta de 11:30 horas a “SÔPA” chega a Juazeirinho e em frente a “Churrascaria Dantas” faz sua parada para o almoço e naquele ambiente tumultuado todos almoçam, sendo que boa parte dos estudantes dão o famoso “seixo”e por azar, o dono da churrascaria decora a cara de Tota Ferreira que estava também dentro do ônibus, não porque ele havia saído sem pagar, mas por que o mesmo estava com uma camisa “balon” vermelha. “Puta qui pariu” que azar! 

Ali em Juazeirinho o ônibus ganhou mais um passageiro, Seu Tazin, com um monte de saco cheio de ferro velho e outras cozitas mais, mas que de uma certa forma tinha um mau cheiro insuportável.

O ônibus partiu daquela parada às 12:30 horas e a bagunça aumentou quando perceberam que Seu Tazin estava roncando e soltando peito. Lá de trás ouviu-se a voz de Aderbal que dizia:”São Lunguin, São Lunguin! Quem terá dado esse peido fedorento?” E a macacada respondia em couro: “Foi seu Tazin”.

Já decorria às 17:00 horas quando o ônibus chegou à Patos e bem na frente do Hotel de Sabido o mesmo parou e já se ouviu o grito de Baia filha de Sabido que dizia: “O fresco que vier nas cadeiras 18, 19 e 20, pode ir tirando o “cuzinho” do assento que foram vendidas aqui em Patos”.

Outro azar de Tota, só que desta vez também Antonio Diniz e Vandui Cabral também entraram, pois as referidas cadeiras eram eles quem ocupavam e diz só quem deveriam ocupar as mesmas?: Antonio Bandeira, Bergman Moura e Antonio de Izidro. Só que quem mora no lixo não pode perder prá bascui e assim começou a confusão e quem estava sentado continuou sentado e a confusão virou-se por cima de “Baia.”

Passada a discussão o ônibus partiu e aí já era 18:00. O mais importante é que durante todo percurso não desceu ninguém, só fazia subir e cada vez mais a cachorrada aumentava e a zorra era literalmente total.

20:00 horas a SÔPA chega a Piancó e ali só desce Ricardo Loureiro e Mané Boi, portanto a lotação continua até Itaporanga. 21:30 horas o ônibus entra em Itaporanga após 17 longas horas de cachorrada e uma viagem muito gostosa e o motorista que era João Môco começa a Buzinar lá do recanto de “Seu Miza Paulo” até chegar na Agencia de “Seu Fela”(Zé Nunes) e ao ouvir as primeiras buzinadas a macacada que já havia chegado em dias anteriores corre, para ver quem chegou. O passeio se acabou e toda estudantada estava esperando os que acabara de chegar, entre os recepcionistas destacavam: Nilvando Gabriel, Benedito Bacurau, Mauri de Maura, Janduy Pebinha, Antonio Nunes, Calaca, Suruca, Beto de Zé Barros, Antonio Fonseca, Agostinho Fonseca, Solange Fonseca, Valdemi Cabral, entre outros e se o “PASSEIO” acabara daqui a pouco ia começar o “ASSUSTADO” da ACREI que ficava no Primeiro Andar de “Seu Zé Figueredo.”

Malas na casa de minhas tias e do jeito que estava entrava no Bar de Zé Juca, depois no Bar de Ernesto, tomava uma e subia para dançar na ACREI. Terminado o assustado por volta das 23:30, depois de deixar a namorada em casa, eu subia pela Av. Getúlio Vargas e entrava no Restaurante de Nezinho Gabriel que cordialmente me cumprimentava e dizia: “Esse aí é irresponsável só quando tá de férias, mas com certeza está bem nos estudos.” E acrescentava:”Esse é filho de Dazinha…” não sei o que queria dizer, mas aquilo me deixava feliz. Depois de perguntar pelos estudos, perguntava quando cheguei e em seguida ia no fogão, destampava o caldeirão e me dava um prato de sopa. Estou aqui relembrando e as lágrimas rolando pelo rosto, lembrando-me daquele homem tão bom que foi Nezinho Gabriel.

Deixem-me chorar, eu quero chorar nessa relembrança, porque igual a Nezinho poderia citar: Walter Inácio, Firmino Leite, Edilázio Felinto, Manoel Moreira, Isaias Cordeiro, Sargento Saturnino, Severino Clementino, Seu Felinto, Zé Carneiro, Manoel Carnaíba, Seu Omar Mangueira, Seu Otacílio Mangueira, Belmiro Pinto, Sebastião Rodrigues, Tio Zú, Antonio Augusto, Zé Arrais, Joca, Antonio de Augustinho, Irineu Rodrigues, Lourival Rodrigues, Luizito Leite e os que ainda estão conosco como essa PILASTRA DE MORAL chamada Agápio Sertão e essa MURALHA DE PROBIDADE Diassis Leite, Cesar Nitão e Cesar Conserva.

Eu quero hoje chorar bem muito, chorar para relembrar como bonito era nosso Carnaval sob a batuta do Maestro Dedé da Orquestra de Uiraúna com Zé Calixto fazendo pirulas à frente e com quatro bailes que enfeitiçavam todo o Vale do Piancó em noites lindas do meu sertão. O Carnaval que durante o dia era abrilhantado pelos blocos formado por estudantes como: “A turma do Inferno”; “Os Dez Ajustados” do qual eu fazia parte com: Calaca, Bitó, Suruca, Beline, Beto, Mestre Willians, Agostinho, Luis Cordeiro e Otaviano Mangueira; Os Aparecidos; Os Dez Florados; Bloco do Independente e os Malandros do Morro de Antonio de Sabido.

Eu vou continuar chorando para lembrar que todas as casas de família de Itaporanga recebiam todos esses blocos com uma farta mesa de salgados e bebidas e havia um congraçamento de todos os setores da sociedade e não vou ser repetitivo nomeando nomes, mas não poderia deixar de citar a casa de Caçula Pinto e Levino Rodrigues que nos recebia com muita hospitalidade.

Eu quero chorar e ao mesmo tempo relembrar que o último baile de carnaval era marcado pelo rompimento da madrugada e todos brincavam quarta-feira de cinzas a dentro e tudo terminava às 8:00 horas em frente a Padaria do não menos querido e saudoso Seu Pedrinho, depois Ranulfo Pereira e ali íamos repor as energias com um pãozinho quente que muitas vezes levei para tomar sopa na casa de Dona Iraci e depois íamos dormir tranquilos e sem quaisquer sinais de violências ou coisa parecida.

CADÊ A NOSSA ITAPORANGA, CADÊ O NOSSO SÃO PEDRO, CADÊ O NOSSO CARNAVAL, QUE RUFEM OS TAMBORES DAS NOSSAS AUTORIDADES E RESGATEM A HISTÓRIA DE NOSSA TERRA, POIS NÓS, JOVENS DOS ANOS SESSENTA, QUEREMOS VER NOSSA TERRA COM A SUA HISTÓRIA CONTADA PARA AS ATUAIS GERAÇÕES.NÃO É MESMO: NILVANDO, ANTONIO ALVINO, SALES PEREIRA, AUDECÍ LOUREIRO, LUÍS COSTA, PAULO CORDEIRO, CAUBY PITA, JOSÉ AUGUSTO DE CARVALHO NETO, CLAUDIO CORDEIRO, CAETANO, DAMIÃO BARREIRO, DAMIÃO CAETANO, JOSÉ ALVES NITÃO, JOSÉ ALVES SOBRINHO, IVANILDO NITÃO, MIGUEL ALVES, ANTONIO CONSERVA, ALBERTO DE ANANIAS,NÉLIO NUNES, ALBELÚZIO NUNES, WELLS RODRIGUES, DUDA FELINTO, DAEL FELINTO.

DEIXEM-ME CHORAR EU SINTO SAUDADES DE TODOS VOCÊS.

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