quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Misericórdia / Itaporanga - O Livro de Bosco Gaspar II


Os meios de transporte

O acesso rodoviário, com revestimento asfáltico, liga Itaporanga a Patos, num sentido, e num outro a Conceição. De Patos, através da BR-230, chega-se a Campina Grande, João Pessoa e demais regiões do país. A partir de Conceição alcançam-se os Estados do norte, através do Ceará e, novamente, o sul do país, via Petrolina, em Pernambuco e Juazeiro, na Bahia. A empresa Guanabara, com ônibus novos e confortáveis, inclusive com ar-condicionado, faz a ligação de Itaporanga com a capital do Estado, e quatro outras, a Planalto, a Guanabara, a Itaperimim e Gontijo, levam os itaporanguenses para Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. 

Os aspectos urbanos

A cidade de Itaporanga possui mais de cem logradouros, com aproximadamente 200 mil metros quadrados de pavimentação asfaltica e em paralelepipedos, além de quatro praças ajardinadas e dois conjuntos residenciais, o Chagas Soares e o Miguel Morato, e um povoado, a Vila Mocó. A segurança local e da região é feita por mais de 100 homens da polícia militar da Décima - Terceira Companhia, subordinada ao III Batalhão da Policia Militar, e da Superintendência da Policia Civil, ligado diretamente a Secretaria de Segurança do Estado. É, também, um dos poucos municípios paraibanos a dispor de rede de esgotos. ltaporanga é a maior e mais desenvolvida cidade do Vale do Piancó. A sua população é superior a 24 mil habitantes, segundo último Censo do IBGE. Destes, cerca de 13 mil são eleitores. 

Ela é também considerada “A Capital do Vale” porque abriga a maioria dos órgãos regionais, tais como o Projeto Cooperar, o Escritório Regional da Emater, o Sexto Núcleo de Agricultura, Sétima Região de Educação, Junta de Conciliação e Julgamento, INSS, Estação de Piscicultura, IBGE, Suplan, Cagepa, Saelpa, Sebrae, agências do Banco do Brasil e Banco do Nordeste e o Sine, tudo isto graças ao prestígio do ex-deputado Soares Madruga que foi o grande construtor de Itaporanga. Os meios de comunicação são representados por uma agência dos Correios e Telégrafos, pela Telemar e Embratel, com mais de 600 aparelhos telefônicos ligados, repetidoras da TV Paraíba, TV Correio, 'I'V Tambau e TV Bandeirantes, uma rádio comunitária, e o projeto de instalação de uma emissora comercial, a Correio do Vale. Já na década de 50 a cidade contava com um moderno serviço de radiodifusão, no caso a Difusora “A Voz de Misericórdia”, de propriedade de Ananias Conserva, que na voz de Edvar Pereira divulgava as noticias de casamento, aniversário, batizado, mortes e missas, dava boas vindas aos que chegavam e desejava boa viagem aos que partiam, sem esquecer as paradas musicais e o tradicional “de alguém para você”. Esse serviço foi substituído pelo rádio de Crispim Pessoa, a “Cruzeiro do Sul”, uma emissora pirata que era captada em todo município, e que teve importância fundamental para o desenvolvimento cultural da cidade. 


A medicina e a saúde

No setor de saúde, durante muitos anos, a situação no município era extremamente caótica, a exemplo do que acontecia em outras regiões da Paraíba, por falta dos meios indispensáveis para a prática da medicina. Um hospital, que começou a ser construído no final da década de 40, só entrou em funcionamento 20 anos depois e, a maternidade que se pretendeu para a cidade, ficou apenas em escombros. A história da medicina no município pode ser contada a partir de 1930 com a chegada a cidade do médico José Gomes da Silva. Antes, durante e ainda por muito tempo, as doenças dos habitantes do lugar eram tratadas com as raízes de José Benedito de Oliveira, de Casuzinha Campos e de outros raizeiros menos conhecidos. Os mais abastardos podiam ser tratados por Dr. Felizardo Leite, que morava em Piancó. 

As crianças que nas iam em Misericórdia chegavam ao mundo pelas mãos de Maria de Burrego, (a parteira que recentemente, através de votação foi considerada a pessoa mais importante de Itaporanga, derrotando figuras de projeção estadual e nacional como José Gomes, Praxede Pitanga e José Soares Madruga) e os casos de ferimentos recebiam assistência nos balcões das farmácias de Tenente Augusto e José Rodrigues. Depois de José Gomes, Balduíno, Manuel Maia, Djalma Leite, vieram outros, mais outros, dezenas deles, que foram trabalhar no Hospital Regional de Itaporanga, hoje um dos melhores e equipados nosocômios do interior paraibano, e que conta com hemocentro, ala infantil, salas de parto e equipamentos de última geração. 


As escolas da cidade

A educação dos jovens teve um destino melhor. As escolas do professor Manoel Diniz, do professor Lidolfo, do professor Neves, das professoras Doralice Pedrosa e, Mariquita Diniz, já a partir do século XIX puderam preparar a maioria dos jovens, transmitindo noções básicas de português, matemática, historia, geografia e até línguas estrangeiras, como o latim e o francês. O Grupo Escolar “Simeão Leal”, construído em 1936, começou a redimensionar a historia da educação em Itaporanga. Veio depois o Colégio Normal Padre Diniz, escola especializada na formação de professores, que nasceu pelas mãos de, entre outros, Balduíno Carvalho, Luiz Guimarães, Manuel Inácio e José Sitonio, principalmente este último, que trouxe e hospedou em sua casa as freiras carmelitas que vieram de Princesa Isabel cuidar do educandário, e que, em 1949, diplomava a primeira turma de professorandas de Itaporanga. 

Padre José Sinfronio ampliou o horizonte educacional da cidade, primeiro com a Escola Paroquial “São Domingo Sávio”, depois com a fundação e a instalação do Colégio Diocesano “Dom João da Mata”, que funcionou primeiramente na sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, indo depois para a sua sede própria, onde ainda funciona. Anos depois Itaporanga ganhou os colégios estaduais “Professor Neves” e “Adalgisa Teodulo”. Falta a cidade algumas unidades de ensino superior, cuja instalação tem sido prometida ao longo de cada campanha política, pelos grupos que disputam a hegemonia da política local. O município conta hoje com mais de noventa estabelecimentos de ensino, pertencentes ao Estado, ao Município e a particulares, sendo que mais de sessenta funciona sob a inteira responsabilidade da Prefeitura Municipal. Nessas escolas estão matriculados cerca de sete mil e 500 jovens e crianças no pré-escolar, alfabetização, primeiro e segundo graus. 


A paróquia da Conceição

A Paroquia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, foi criada no dia 11 de julho de 1860, por decisão da Diocese de Olinda, que tinha jurisdição sobre os Estados de Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, sabendo-se que naquele ano houve um movimento mundial de consagração a Nossa Senhora, daí a homenagem a Virgem da Conceição. O povoado, no entanto, desde 1840 já possuía um templo, no caso a Igreja do Rosário, em torno de que o lugarejo nasceu e se desenvolveu, social e religiosamente, o que era bem próprio da época, quando a Igreja exercia um papel preponderante sobre as populações interioranas. 

Os primeiros ensaios para a construção de um templo dedicado a Padroeira aconteceram ainda no século XIX, no mesmo local onde foi construído a majestosa e atual Matriz da Praça do Centenário. Algumas paredes ainda foram levantadas, mas as obras não prosperaram. Logo após o término da I Guerra Mundial, vindo da Alemanha, chegou a Misericórdia frei Martinho, trazendo consigo o projeto arquitetônico da Igreja, concebido e projetado por engenheiros e arquitetos europeus. Frei Martinho conseguiu então convencer o padre Joaquim Ludugero Diniz, vigário local, a assumir a construção da obra. 

Depois de muitos contatos conseguiu-se finalmente encontrar o homem capaz de erguer o templo, já que naquela época era praticamente impossível contar com os serviços de um engenheiro. A escolha recaiu sobre o mestre Sebastião Muniz, um cearense que veio para o sertão paraibano comandar pedreiros e auxiliares na construção de obras do governo, e que na construção da igreja contou a eficiente colaboração de João Firmino e Luiz Guimarães. Ele era pai de Chico Muniz, aquele protético que durante muitos anos morou na atual Rua Ananias Conserva e avô da dentista Marlene Muniz Terceiro Neto, a primeira mulher itaporanguense a concluir um curso de nível superior. A obra se arrastou por muitos anos, sendo que grande parte dela foi inaugurada em novembro de 1923. Na década de 30 os trabalhos foram reiniciados e, finalmente, em 1942, a obra era totalmente concluída com a construção da torre, sob a responsabilidade do padre Manuel Firrnino. 

Padre José Sinfrônio de Assis, já vigário de Itaporanga, promoveu uma completa reforma no templo que ganhou novos vitrais nas janelas, todos financiados por famílias e pessoas ilustres da cidade, além de um novo altar-mor e urna ampla sacristia. A igreja foi então ampliada em 16 metros no seu cumprimento. Pela paróquia de Nossa Senhora da Conceição passaram entre outros os seguintes vigários: padres Joaquim Formiga (que foi assassinado em Conceição), Francisco das Chagas, Manuel Mota, Lourenço de Sousa, Joaquim Diniz e Manuel Firmino (todos eles estão sepultados em frente ao altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário), padre Manuel Tomaz (sepultado no velho cemitério da cidade), padre Luiz Vieira (sepultado no cemitério Mãe de Misericórdia), padre Nicolau Leite, padre Francisco Lopes, padre Antônio Lisboa, padre José Maria, padre Luiz Gualberto, padre Francisco Sitônio, padre Valdomiro, padre Quirino, padre Trajano e padre José Sinfrônio de Assis, hoje monsenhor, que está em Itaporanga desde o dia 03 de março de 1955. Padre Zé é o que se pode chamar de construtor de monumentos. Além da reforma da Igreja-Matriz, a sua primeira obra em Itaporanga, ele é ainda o fundador e responsável pela construção e instalação do Colégio Diocesano “Dom João da Mata”. Construiu também a estátua do Cristo Redentor e comandou a reconstrução da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. 

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