Quando soube do seu falecimento, senti um profundo remorso, por não tê-lo visitado antes. Sabia eu que meu amigo estava acamado, daí a minha frustração e uma dor medonha no peito, na consciência também, face à aparente falta de solidariedade a um irmão enfermo. Hesitei! Não tive “coragem” de observá-lo em câmara ardente. Letícia foi até lá. Tampouco ao seu sepultamento, compareci. Dor danada no peito, a consciência pesando.
Preferi ficar com a imagem viva de “Zé de Aristides”, da forma como era ele, como sempre fora, alegre e bonachão. Cultivando um permanente sorriso, acenando aos que por sua calçada passavam, recordo perfeitamente uma noite de um domingo qualquer, quando Letícia e eu voltávamos da missa, na Matriz da Conceição e ele atendeu todo prestativo, quando ainda residia na Rua Pedro Américo, bem defronte à imagem do Padre Cícero. Isto já faz algum tempo, uma vez que dali se mudaria para a Rua Treze de Maio. Nunca mais o vi.
“Zé de Aristides” foi um dos grandes amigos do meu saudoso pai Zé”Conserva, com o qual compartilhava quase que diariamente partidas de “ZÉ DE ARISTIDES” dominó na calçada de sua mercearia. As festas de Natal e Ano Novo se aproximavam. E lá vinha “Zé de Aristides” comprar um novo terno, precisamente no NOVO ARMAZÉM.
- Tenho tergal, linho e tropical- dizia meu bondoso pai, satisfeito da vida, jogando no balcão variadas peças de cores diversas.
- Prefiro um terno de linho branco para enfrentar o calor. Escolhido o tecido, lá estava meu pai a medir, não cinco metros e meio como seria o natural, e sim, quase sete metros da boa roupa que seria costurada pelo alfaiate Audízio ou César Nitão, detalhes que já nem me lembro.
Homenzarrão bonito, vaidoso e elegante, na época do Cinema União de Zacarias Rosas, da sorveteria de Firmino e da sinuca do “seu Ananias”, da brilhantina também, é esta a imagem que guardo de “Zé de Aristides”, ainda gravada em minha memória adolescente do seminarista que sonhou ser o padre que não foi para maior desconsolo do patriarca.
Pois é, amigos: tudo isso agora revelado como reflexo da sofrida memória paroquial nestas crônicas sentimentais. Pedi à Drª Lolosa para resumir alguns dados biográficos desse amigo, seu parente, da gema do Jenipapo: eis aqui a síntese de uma breve biografia do nosso querido conterrâneo José Aristides de Figueiredo.
“Nascido a 14 de junho de 1922, filho de Aristides José de Figueiredo e Cecília Pereira de Carvalho. Teve cinco irmãos: Josias, João, Isaías, Severino e Lidinha, sendo “Zé de Aristides” o sexto filho, aliás o mais novo: deixou três filhos: Geralda, Maria do Socorro e João Deon que, por sua vez, lhes deram três netos. Era agricultor, filho de agricultor, depois passou a comerciante. Natural do Sítio Jenipapo, deste município, era casado com Dona Elaida Pinto de Figueiredo”.
Vitimado por um enfarte fulminante na manhã de sábado, cinco de abril, enquanto tomava seu banho diário auxiliado pela filha Geralda, apenas balbuciou algo inintelígel e arriou sua cabeça nos ombros da boa filha que o acompanhava. Dia seguinte seria sepultado sob as vistas de uma legião de amigos.
Saudades do meu amigo “Zé Aristides”, cuja vida será multiplicada através dos filhos e netos. À família enlutada, em momentos tão dolorosos, os sentimentos da família Conserva, através de Dona Branca.
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