sábado, 11 de outubro de 2014

Fecharam a biblioteca para dar lugar a banco


Uma das melhores ações administrativas pela cultura e educação de Itaporanga nasceu das mãos do interventor Murilo Bernardo, que sucedeu o prefeito João Franco da Costa, afastado do cargo pela Justiça por supostas irregularidades contra o erário público no final da década de 80.

Por influência do seu secretário geral Agápio Sertão, o interventor adquiriu o prédio de número 62 da Avenida Getúlio Vargas e, durante sua gestão, no segundo semestre de 88, lá instalou a biblioteca municipal Paulo Correia, que se tornou um grande centro de leitura e pesquisa.

Mas essa grande obra educacional não resistiu ao descaso e à pouca preocupação cultural dos gestores municipais que sucederam o interventor, e, no começo do ano 2.000 (gestão Kátia Brasileiro), puseram a biblioteca abaixo e cederam o prédio, em forma de comodato, para o Banco do Brasil, que ocupa o imóvel até hoje.

Como uma das instituições bancárias mais poderosas e ricas do país, o Banco do Brasil poderia comprar ou construir um prédio para abrigar sua agência em qualquer ponto da cidade, mas recebeu como presente um imóvel público, e pior: no lugar de uma biblioteca, que é o espaço mais nobre de qualquer sociedade, embora nem todos comunguem com esse conceito.

Além do grande dano à cultura local, a iniciativa da Prefeitura pecou contra a memória de um dos mais ilustres filhos da terra: o seminarista e ativista social Paulo Correia.

Tudo poderia ter sido diferente se o grande itaporanguense, como opina alguns cidadãos locais, carregasse o nome dos tradicionais clãs que comandam politicamente isso aqui há dois séculos ou se a biblioteca tivesse sido erguida por um gestor membro dessas famílias.

Mas a obra foi construída por um forasteiro e homenageou um filho do Barrocão. Por isso já nasceu ameaçada de morte. “A intenção foi apagar todo e qualquer registro e memória da obra construída por mim, e não apenas dessa, mas de muitas outras”, disse Murilo Bernardo em desabafo à Folha dois anos atrás.

BB sem ação cultural ou social em Itaporanga

Apesar de ser uma agência lucrativa, com taxas bancárias pesadas, mais de 10 mil clientes e ocupar um prédio público municipal sem pagar aluguel, o Banco do Brasil não têm nenhum projeto cultural ou social em Itaporanga, diferentemente do que ocorre em outras cidades da Paraíba, onde a Fundação Banco do Brasil desenvolve diversas atividades sócio, cultural e educacional voltadas a comunidades carentes.

A agência do BB de Itaporanga é a maior do Vale e uma das mais lucrativas da Paraíba.

Comodato vence no próximo ano

Em agosto de 2010 vence o contrato de cessão gratuita do prédio ao Banco do Brasil. A intenção da Prefeitura é renovar o comodato, mas desde que haja alguma contrapartida da instituição bancária ao Município. “A Prefeitura e o banco vão discutir isso no momento oportuno, mas eu acredito que essa renovação só será possível se o Banco do Brasil contribuir com alguma coisa para o Município, já que o poder público não recebe nada pelo prédio, e quando precisa de qualquer coisa no banco, tem que pagar”, comenta o secretário municipal de Administração, José Joaquim, ao informar também que se o BB tiver interesse em comprar o prédio a Prefeitura está disposta a negociar.

Enquanto entidades filantrópicas como a Fundação José Francisco de Sousa, que presta gratuitamente serviços de educação e cultura à comunidade de Itaporanga precisa sair do centro da cidade pelo alto custo do aluguel e migrar para a periferia, restringindo o acesso dos estudantes aos seus projetos, uma instituição capitalista e rica como o Banco do Brasil ocupa um prédio público municipal sem nenhuma contrapartida ao Município.

Folha do Vale

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