domingo, 19 de outubro de 2014

28 anos da morte de Balduíno


Com exceção do fato de ter nascido e morrido em uma mesma data, 30 de dezembro, poucas coincidências marcaram os 75 anos vividos pelo médico e líder político regional Balduino Minervino de Carvalho. É certo que precisou fazer algumas escolhas ao longo da vida e, menos por coincidência ou sorte, acertou a maioria delas.

A mais importante dessas escolhas, a que mudaria sua vida completamente e definitivamente, ocorreu quando Balduino ainda era um jovem recém-formado em medicina pela Faculdade de Recife e recém-casado com a mulher que o acompanharia pela vida inteira, Maria Laurentino de Medeiros Carvalho.

Entre Natal e Itaporanga, o médico preferiu não deixar o Vale: fixou residência na então Misericórdia, por influência de alguns parentes que por aqui já viviam. Chegou em 1935 com a mulher e o filho mais velho, Júlio Minervino Neto, o único não itaporanguense.

Na casa de número 110 da rua que hoje tem o seu nome viveu a vida inteira e aumentou sua prole. Vieram mais cinco Medeiros Carvalho: Valdecir, Teresinha Maia (Tetê), Derli, Valdemir e Maria do Socorro (Corrinha), que ainda hoje ocupa a moradia, em frente a qual se vê imponente a estátua do político e sob seus pés, a praça também erguida em sua memória.

As memórias de Balduino não fulguram tão somente na rua; no interior da residência, os instrumentos médicos e cirúrgicos que durante meio século curaram incontáveis enfermidades, fizeram nascer muitas vidas e salvaram muitas outras. Em um tempo em que a medicina era uma prática rara na região, Balduino de Carvalho significava uma das poucas opções.

Para seu consultório, convergia gente de toda a região: ricos e pobres, mas destes ele não cobrava, como relembra sua filha. “Papai era um homem caridoso”, diz Corrinha Balduino, a filha mais nova e principal guardiã de sua memória.

A caridade levou-o a política partidária: foi deputado estadual por seis legislaturas, de 1946 a 1970. Sua vida pública ocorreu entre duas ditaduras: começa com o fim da Ditadura Vargas e encerra-se no princípio da Ditadura Militar, cujo um dos maiores atentados à democracia foi a extinção dos partidos políticos, entre o quais o PSD, ao qual Balduino pertenceu durante quase toda sua vida política.

Aliado do senador Ruy Carneiro, Balduino foi um dos fundadores na Paraíba do Movimento Democrático Brasileiro, uma das trincheiras de luta contra a ditadura instituída em 1964 e que deu origem ao hoje PMDB.

Opôs-se ao golpe militar, mas também ao regime Vargas, as duas ditaduras que alcançou. Foi soldado voluntário na Revolução Constitucionalista de 1932, deflagrada pelos paulistas contra o governo de Getúlio Vargas.

Na Assembléia Legislativa do Estado, Balduino angariou ações importantes para o Vale. Em Itaporanga, por exemplo, fundou o colégio Padre Diniz e trouxe para cá, na década de 50, o Banco do Nordeste, primeira agência bancária da cidade. A Sociedade Mantenedora do Hospital Distrital, do qual foi um dos fundadores, a Associação de Proteção à Maternidade e à Infância Nossa Senhora de Fátima e associação rural são entidades nascidas por iniciativa do deputado estadual, todas já extintas.

Mas a grande obra de Balduino de Carvalho foi a conquista da emancipação política de diversos municípios da região. Por iniciativa dele, motivado por lideranças locais, a região ganhou mais sete cidades no começo da década de 60: Boa Ventura, Pedra Branca, Curral Velho, São José de Caiana, Diamante, Serra Grande e Olho D’água, a terra onde nasceu em 30 de dezembro de 1905. “Apesar de ter nascido em Olho
D’água (à época distrito de Piancó), ele se considerava filho de Itaporanga, porque foi aqui onde passou a maior parte de sua vida”, diz Corrinha, referindo-se ao sentimento de amor que seu pai nutria pelo município que o adotou.

Apesar do apego sentimental a Itaporanga, Balduino de Carvalho foi criticado exatamente por ter reduzido o território itaporanguense ao emancipar os seis distritos que pertenciam ao município na época, mas ao criar leis que garantiam a independência dessas localidades, Balduino estava atendendo a um apelo do povo daquelas comunas, que desejavam a independência político-administrativa como passo imprescindível para o seu desenvolvimento.

Os sete municípios que foram emancipados por Balduino representaram quase metade dos existentes na região na década de 60, ou seja, pela ação do deputado, o número de cidades regionais duplicou.

As disputas locais
Durante as quase três décadas de vida pública em Itaporanga, Balduino teve como maior adversário na disputa pelo poder político e administrativo local e regional Praxedes da Silva Pitanga.

As lutas políticas paroquiais entre Balduino e Pitanga refletiam na Assembléia Legislativa, palco de muitas arengas verbais entre os dois, que tiveram atuação simultânea no parlamento estadual por duas legislaturas.

Balduino nunca disputou a prefeitura de Itaporanga, preferiu sempre a Assembléia, porque como deputado aglutinava maior força política, mas deu apoio e elegeu alguns dos seus aliados para a prefeitura, entre os quais Francisco Clementino, conhecido por Paizinho, Sinval Mendonça e Marleno Barros.

Com Balduino de um lado e Pitanga do outro, as eleições tanto para prefeito quanto para deputado eram sempre acirradas, mas não há registro de um grande conflito pessoal entre os dois, embora coragem e pistolas para uma guerra não faltassem a nenhum deles. “Durante as campanhas a gente vivia uma grande tensão porque parecia que tudo ia se desmanchar em bala, mas nunca houve nenhum problema maior”, diz a ex-vereadora e filha de Balduino, Tetê Maia, ao relembrar também momentos bons da política eleitoral que eram as festas dos comícios e das vitórias, cujo palco principal era a praça enfrente à casa da família.

Mas nessa praça também houve momento de decepção e tristeza: uma das eleições para prefeito que o líder político mais desejou vencer e não conseguiu foi em 1968, quando lançou o filho Derli Balduino, que não logrou êxito nas urnas, sendo  derrotado por Adailton Teódulo. “Perdi por 245 votos”, recorda Derli, ao esclarecer que sua derrota pode ser atribuída ao empenho do governador da época, João Agripino, para derrotar Balduino, que meses antes havia feito graves denúncias de corrupção contra a gestão estadual.

A derrota, entretanto, não ofuscou a carreira política de Balduino de Carvalho, homem que não temeu o enfrentamento com a poderosa família Genipapo, à época comandada por Pitanga e Zé Gomes, e conseguiu sobressair politicamente em uma terra que não era a sua, mas que o adotou como filho querido.

Mas é preciso registrar que Balduino e Pitanga conciliaram-se antes de suas mortes políticas; fizeram uma dobradinha para a Assembléia e Câmara Federal e ambos foram vitoriosos.

Meses antes de morrer, já pressentindo o seu fim próximo, Balduino convidou Pitanga para um derradeiro encontro: confiou ao seu ex-desafeto político o último mais importante ato de sua vida: a redação e registro de um testamento determinando que seus filhos só poderiam dispor de sua herança para venda 25 anos após sua morte.

No dia 30 de abril de 1980, data do seu aniversário de 75 anos, Balduino faleceu, mas sua história e seu legado político não morrerão nunca, viverão no nome de muitas ruas e praças deste Vale, pelo qual o líder bradou e lutou durante toda sua vida.


Folha do Vale

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