sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Praxedes Pitanga - O destino, a luta, o tempo II


PREFEITO PELO VOTO

Passei a advogar no sertão paraibano e em cidades do Ceará; aonde ia a cavalo. Depois abri escritório de advocacia em Campina Grande. Veio a redemocratização do País. Criada a UDN, com risco de vida fundei diretório em Misericórdia. Fiz caravana de 500 a 600 cavaleiros, com fotógrafos e banda de música, pelos municípios vizinhos em propaganda da candidatura de Eduardo Gomes à presidência da República. 

Em 1946 fui acometido de uma paralisia facial. Viajei ao Recife em busca de cura e ali fui internado na Casa de Saúde São Marcos. Mas, recebendo carta de Misericórdia, informando que meus adversários e um aliado, pertencente ao Partido Libertador, diziam ao eleitorado que eu estava desenganado, pedi alta. Os médicos negaram, alegando que meu estado de saúde não permitia. 

Paguei a conta à Casa de Saúde e deixei uma carta para os meus médicos, viajando para Misericórdia. Cheguei bastante enfermo, mas ordenei aos amigos que organizassem um comicio. Falei ao eleitorado com a boca torta e a pálpebra do olho direito arreada. Condenei a ação dos meus adversários e do candidato libertador aliado. Com quatro dias se deu o pleito. Oswaldo Trigueiro venceu Alcides Carneiro como candidato ao Governo do Estado. E eu fui eleito deputado com uma votação que se igualou à de Renato Ribeiro, também da chapa udenista. 

Fugi o quanto me foi possível da tribuna, devido à saúde. Mas, mesmo assim, tive que fazer discurso combatendo adversário. Em 1950 fui candidato a deputado federal. Argemiro e José Targino (este no Governo do Estado) me faltaram com a votação que haviam prometido. Enquanto isso, eu dei vitória a Argemiro contra José Américo, ambos candidatos a governador. Traído, desliguei-me da UDN e me passei para o PTB, na época dirigido por Epitacinho. Fui nomeado advogado do Banco do Brasil, mas não quis assumir o cargo. Preferi candidatar-me a prefeito de Misericórdia. 

Fui eleito em 1951 pelo PTB, vencendo os candidatos de José Américo, que era governador do Estado: Osmar Mangueira e Chagas Soares. Como prefeito, sofri enorme. perseguição do Governo, que mandou o sargento Pedro Moreno intimar 20 homens pacatos a entregarem suas armas. Eu requeri hábeas corpus preventivo para toda essa gente. O sargento se assombrou e pediu demissão. O fato teve a maior repercussão e “A Imprensa”, jornal católico da Arquidiocese da Paraíba, dirigido pelo cônego Odilon Pedrosa, publicou notícia sobre essas perseguições. 

O ADMINISTRADOR



Sofrendo pressões de José Américo, o jornal fechou. Eu, de minha parte, sofri uma perseguição maior do Governo. Mesmo assim, fiz uma administração municipal que ainda hoje é lembrada e exaltada. Comprei um trator para estradas e adaptado para tarefas agrícolas. Botei luz em todas as vilas do município, seis ao todo, hoje cidades. Melhorei a iluminação urbana, fiz várias estradas carroçáveis, construí o Mercado Público numa área de 120 metros de comprimento por 88 de largura e ainda botei um cinema com fins educativos. Construí mercados públicos ainda em São José de Caiana e Serra Grande, onde fiz também barragem para abastecimento público. 

Implantei uma linha telefônica, com 42 km de extensão, estabelecendo comunicação entre Itaporanga e os distritos de São José de Caiana e Serra Grande. Fiz em Itaporanga duas praças e um edifício magestoso, que reunia num só prédio a Prefeitura, a Câmara Municipal e o Forum. A esse prédio dei o nome de Palácio dos Poderes. Fiz um hospital em convênio com o Governo Federal e botei abastecimento d'água na cidade. Botei ainda uma agência do Banco do Brasil, um serviço de alto-falantes, vários campos de agricultura mecanizada e postos médicos com distribuição gratuita de medicamentos. 

Construí um posto de puericultura dei assistência dentária a toda a população. Estes serviços já haviam sido implantados por mim em 1937, quando administrei pela primeira vez o município. Iniciei a construção de um clube sócio-recreativo­esportivo, do qual ainda guardo a planta. Não levei a cabo a obra pelo desestímulo, pois os adversários, altas horas da noite, mandavam destruir as paredes e carregar o material. Esse clube seria um dos mais modernos do gênero, na época. Não deixei dívidas em nenhuma das duas vezes em que governei o município. E não havia nesse tempo auxílios nem federal nem estadual aos municípios. 

Quando fui prefeito pela primeira vez construí um açougue, estabeleci a remoção do lixo urbano em carroças de tração animal, botei estação experimental de várias espécies de frutas na fazenda Mata Limpa, de propriedade de Joaquim Chaves. Fiz calçamentos na cidade e nas vilas do município. Dei à cidade de Itaporanga a coroa de Rainha do Vale do Piancó. A cidade, que era então confinada a duas ou três ruas, foi por mim esticada através de obras construídas em locais mais distantes do centro. Isso me valeu muitas críticas no início. Mas foi essa providência que tornou Itaporanga a cidade que é hoje. 

Como prefeito, candidatei-me a deputado federal com meus companheiros de PTB Luiz de Oliveira Lima e Apolônio Sales de Miranda. Desconfiei que nossa legenda não alcançaria o quociente eleitoral e convidei meus ilustres companheiros para uma coligação com o partido mais forte. Não aceitaram. No fim, viram que eu tinha razão. Nossa legenda cansou. Os heróicos companheiros perderam o esforço, foram vencidos. Eu, largando a sua companhia, fiz coligação individual com a UDN, ao tempo dirigida no Estado por João Agripino. Consegui um lugar na legenda desse partido, sem voto nem auxilio pecuniário. De mim, Agripino exigiu apenas que eu apoiasse para o Senado os candidatos Argemiro de Figueiredo e João Arruda. 

NA CÂMARA FEDERAL


Com dificuldades, degustei esse prato desagradável. Levei os dois candidatos à vitória em Itaporanga. Argemiro, tendo se candidatado a senador e deputado federal, optou pelo Senado, deixando vaga a cadeira na Câmara Federal. De sorte que não precisou que se renovassem três sessões nulas na minha zona eleitoral, que me garantiria a cadeira de deputado federal. 

Como deputado federal de 1955 a 1958, fiz parte das mais importantes comissões da Câmara. Combati a indústria da seca, mostrando, com documentos, filhos de chefes políticos e apaniguados alistados como operários. Votei contra o impedimento de Café Filho e Carlos Luz, com o Congresso cercado pelas forças do general Teixeira Lott, então ministro da Guerra. Fiz um projeto de reforma agrária calcado nas adiantadas teorias do gênero. Esse projeto foi “enfocado” no Congresso. Nesse tempo havia ali uma maioria latifundiária. 

Com a mesma doutrina com que fiz esse projeto, foi elaborado o Estatuto da Terra em 1964. Em 1960, enganado pelos políticos aos quais auxiliei sinceramente, sem colocação no Rio de Janeiro, com esposa e filhos menores, fui obrigado a requerer minha volta ao Ministério Público, tendo sido nomeado promotor, cargo do qual havia pedido demissão há 28 anos. Naquele ano apoiei a candidatura de Janduhy Carneiro a governador do Estado. Ele lançou, em comício, minha candidatura a deputado federal. Mas só em 1962 eu me candidataria. Cobrei de Janduhy a promessa de apoio. Ele nem sequer respondeu a carta que lhe enviei, na qual esclarecia que esse apoio não prejudicaria sua eleição. E eu ainda me prestava a cobrir as despesas do pleito local, ou seja, de Itaporanga. 

Tive boa votação no pleito de 1962. Além da falta de apoio prometido por Janduhy, tive minha votação trocada nas urnas, depois da eleição, em outro município. Denunciei essa grosseira fraude ao Tribunal Regional Eleitoral, instruindo a denúncia com boletins eleitorais referentes à minha votação e depoimentos de testemunhas. O TRE negou a minha reclamação, dando ao caso solução facciosa, Fiquei como suplente, ao lado de Raymundo Asfora e Arnaldo Lafaete. 

O CANTO DO CISNE

Como promotor continuei político. Nunca sofri ação, repreensão ou denúncia de qualquer tipo, sob fundamento de haver me prevalecido do cargo para atendimento de interesses pessoais. Nas eleições de 1966 votei, com todos os meus comandados, em Ruy Carneiro e Argemiro de Figueiredo, candidatos, respectivamente, a governador e vice-governador. Ambos ganharam em Itaporanga, embora tendo perdido o Estado para os concorrentes. 

Descrente da política, alvo de tantas traições, de tantas decepções, abandonei a política em 1967 e fiquei na minha Promotoria. Depois de 10 anos em Itaporanga, fui removido por merecimento para uma Promotoria de Campina Grande e dali vim para a capital, onde ocupei interinamente o cargo de vice-procurador do Estado, em virtude de ter servido ao Ministério Público mais tempo do que o necessário. 

Por efeito da Constituição de 1969, fui aposentado com as honras de desembargador e com as vantagens financeiras compatíveis a esse cargo. Daí passei a advogar, função em que tenho me distinguido, conforme opinião de desembargadores, juízes e advogados, formando entre os de primeira linha. Não há nisso vaidade, porque não é juizo meu, mas de elementos idôneos que atuam no mesmo meio em que venho militando. 

Está nesse depoimento o canto de um cisne que não quis morrer.

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