segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A vida e as mágoas de Zé Barros

Zé Barros rompe o silêncio e faz revelações de sua vida a Paulo Conserva
Há duas semanas o jornalista e escritor Paulo Conserva foi ao escritório de um velho fotógrafo entrevistá-lo. Poderia ter sido uma conversa tão somente sobre a arte fotográfica se frente a frente com o entrevistador não estivesse José Barros de Sousa, o conhecido Zé Barros, ex-viceprefeito de Itaporanga, um dos homens mais populares do município e um dos pioneiros da fotografia regional.

Na entrevista, Zé Barros fala de sua vida, da política e também, claro, da sua paixão, a fotografia. Profissão que lhe garantiu a renda necessária para criar e formar os filhos, e, mais do que um trabalho digno, deu-lhe popularidade e prestígio social. “Abaixo de Deus a fotografia foi que me deu tudo”, resume.

Zé Barros escolheu a fotografia como profissão num momento em que não lhe restavam muitas alternativas de trabalho. Teve que se desfazer de um pequeno comércio que mantinha na cidade pernambucana de Serra Talhada, onde morava, para pagar dívidas, e ficou desempregado. Com o pouco que ainda lhe restava, adquiriu uma máquina fotográfica oferecida por um amigo “e comecei uma vida nova”.

Natural de Diamante, mas criado em Itaporanga, o menino José não chegou a conhecer a mãe, nunca freqüentou uma sala de aula, embora não seja analfabeto, e a única referência que tem sobre sua origem é a família Barros. 

Do ex-prefeito João Franco, de quem foi vice e o responsável pela sua inserção na política, Zé Barros parece guardar uma grande mágoa... “eu entrei na política por causa de João Franco, e quando ele foi prefeito, com o apoio de Madruga... foi cassado, mas eu não fui porque não tinha negócio com ele. Eu me senti traído... ele foi covarde comigo”, diz o fotógrafo, sem explicar claramente o motivo da desavença entre os dois.

Zé Barros tem 81 anos e ingressou na atividade política em 1972 como candidato a viceprefeito de João Franco, mas não obteve êxito. Dez anos depois, voltou a disputar o pleito municipal novamente como vice de João Franco, e desta vez foi vitorioso. Em 1988, o fotógrafo aproveitou a grande popularidade que tinha e decidiu disputar a prefeitura de Itaporanga, mas terminou derrotado por Will Rodrigues.

Sobre a campanha que elegeu Will prefeito de Itaporanga, Zé Barros faz um desabafo e afirma que não perdeu honestamente. “Eles só tomaram minha eleição com safadagem, mas em votação normal, como fui votado, não perdia não. Podia ter dinheiro de ruma, mas houve tramenha e safadagem. Nem dinheiro fazia eles ganhar. Eu tinha quatro mil votos aqui dentro. Com esses seis candidatos votaram oito mil e pouco, e eu tirei dois mil quatrocentos e cinco votos...”. E a derrota o fez abandonar a política partidária para sempre.

Morando sozinho no mesmo prédio onde há décadas funciona o estúdio fotográfico, localizado na Rua Praxedes Pitanga, Zé Barros diz que nunca pensou em morar em João Pessoa, apesar da insistência da mulher e filhos que lá residem. “Eu não gosto de João Pessoa e se for pra lá fico pensando em Itaporanga e termino morrendo dentro de quinze, vinte dias”.

Totalmente lúcido e ainda em atividade, ele diz que sua saúde não vai bem ao explicar que sofre de um distúrbio na coluna cervical-lombar e artrose, “e tenho certeza que nenhuma dessas doenças tem solução”.

Desde os tempos de vice-prefeito até os dias de hoje, Zé Barros é considerado um homem atencioso e caridoso. “Quando um pobre chega atrás de mim eu nunca sei dizer não, pois só pede quem não tem”, diz ele, cujo escritório de fotografias também serve de ponto de encontro dos amigos para o bate-papo diário.

Publicado peço Jornal Folha do Vale em 17/01/ a 07/02/2008

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