segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ou arrume seu quarto antes de ler!

Lourival Inácio

O ser humano sempre teve fascínio pelo infinito, à idéia de finitude parece para o humano algo incompleto, inacabado, imperfeito e por isso não muito bem assimilado pela nossa consciência. Daí a preocupação recente com o meio ambiente está intimamente associada com a de preservação da espécie.

O eterno na história sempre esteve presente nas mais variadas formas de cultura humana. De forma consciente ou inconsciente, desde as pinturas rupestres pré-históricas, passando pelas pirâmides no Egito, a formação das estruturas religiosas. O fim definitivamente não faz parte de nossa psicologia individual ou social. Acabam-se neste mundo para renascer em outro, divisão material/espiritual pertinente nas mais diversas culturas. 

Talvez por essa ojeriza a idéia de fim nos leve a reflexões a cerca de nossas relações com o mundo concreto e material consubstanciado na palavra natureza – enquanto meio de onde se extraí a nossa sobrevivência. A natureza, ao contrário do que muitos pensam, não se acabará, pois há no meio físico uma inabalável capacidade de readaptação e reestruturação que talvez nos falte diante dos avanços tecno-científicos que cria as necessidades do supérfluo consumista – A cidade de São Paulo produz mais de 12.000 toneladas de lixo por dia, com este lixo, em uma semana dá para encher um estádio para 80.000 pessoas – o que pode se acabar, e essa parte sim tem que se repensar, é a espécie humana.

Relatórios modernos e atuais fartamente noticiados pelas várias mídias nos trazem dados que nos alertam para uma possibilidade aterradora – não muito diferente das de décadas passadas – a idéia de que poderemos ter sérios problemas em conseqüência do modelo de desenvolvimento que escolhemos. Dos mais sentidos podemos destacar a questão já fartamente popularizada do derretimento progressivo das calotas polares e a conseqüente e provável inundação costeira pelo globo. 

Ledo engano nos colocarmos como visionários espirituais de um apocalipse teleológico já anunciado pelas escrituras e ficarmos no “eu não disse...” ou no “eu já sabia...”, pois nos colocaríamos diante de um dado determinista e já pré-estabelecido, independente do que se faça “o fim está próximo e é inevitável...” dando a história um determinismo que é anti-histórico e que colocaria a nós – humanos – como meras cobaias do destino.

Da descoberta do fogo – primeira fonte de energia – a descoberta da energia nuclear, a necessidade básica humana tem sido e sempre será a de alimentação, por mais desenvolvidas que sejam as tecnologias, não nos desprenderemos nunca desse aspecto animal inerente e que nos liga as demais espécies do globo, holisticamente falando. Essa necessidade de se manter, se sobrepor e subjugar tem levado ao uso indevido das fontes energéticas na manutenção de poder. Com elas – no caso da Segunda Guerra Mundial e por toda a chamada Guerra Fria – ou por elas – no caso dos vários conflitos envolvendo o petróleo do Oriente Médio.

No Brasil colonial, os europeus trouxeram da cultura inquisitória a idéia de fogo como expiação dos pecados (ou dos inimigos), a floresta tropical nas noites escuras do Brasil colônia era de onde vinha a chuva de flechas e onde moravam os deuses pagãos (história do imaginário), floresta que era empecilho para a produção comercial agrícola (história econômica) na dúvida queimá-la era e ainda é a melhor solução para muitos.

Mas, saindo do macro para o micro, não há o que nos mate mais que a rotina – e não estou falando do casamento – o nosso consumismo e a nossa comodidade (História Cotidiana) tem nos matado aos poucos, carros com seus dióxidos de carbono, churrascos de bois que pastam onde tínhamos florestas, carvão que assa o mesmo churrasco, que era a árvore de que falamos na ecologia, copos descartáveis, garrafas plásticas, baterias de celulares, veneno pra ervas daninhas do meu quintal, e sem irmos muito longe o lixo no piso da minha sala de aula e da minha escola.

Queremos mudar o mundo, mas não arrumamos o nosso quarto! 
Será que o poeta barroco estava certo?

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

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