quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Na cidade mais rica do Vale, criança faminta furta espeto de carne e é perseguida até entregar o alimento

“Problema do menor em Itaporanga só será resolvido quando a Prefeitura construir uma Casa de Passagem", diz conselheiro tutelar


Sem uma Casa de Passagem que pudesse dar abrigo, alimento, apoio psicológico e educacional às crianças que vivem abandonadas pelas ruas, apesar das cobranças constantes da Promotoria da Infância e Juventude e do Conselho Tutelar feitas à Prefeitura, a situação do menor agrava-se a cada dia em Itaporanga, a cidade com o maior PIB (Produto Interno Bruto) da região.

“Se aqui nós tivéssemos uma Casa de Passagem para dar apoio material e educacional a essas crianças, era fácil de resolver o problema, mas, sem essa estrutura, o Conselho não pode fazer nada ou pouco”, lamenta o conselheiro Júnior Justino em depoimento à reportagem da Folha (www.folhadovali.com.br).

Conforme ele, o poder público e a sociedade não têm sensibilidade para com o problema do menor porque não conhecem a tragédia que é a vida dessas crianças, “que não têm alimento nem carinho, não têm roupa nem escola, dormem no chão e, pior, lhes faltam pai e mãe, ou seja, uma família, muitas delas degradadas pelo alcoolismo”.

Nas ruas de Itaporanga, os meninos têm praticado pequenos furtos em busca de comida, brinquedos e vestuários. Além dos furtos, a prostituição é o caminho mais frequente das meninas. Mas tanto eles quanto elas sofrem abusos e violência moral e física em suas peregrinações diárias pela zona urbana.

Relegadas e frustradas de tanto receberem “não”, muitas arriscam-se a subtrair qualquer coisa para lhes matar a fome. Nessa quinta-feira, 5, conforme o conselheiro Júnior, uma criança retirou um espeto de carne de uma churrascaria local e foi perseguida até devolver o alimento, além de sofrer maus tratos morais. O menino tem um longo histórico de abandono familiar e social: é filho de mãe solteira vitimada pelo alcoolismo e prostituição, e vive em condições subumanas em um beco da cidade, mas seu casebre consegue ser pior do que as ruas.

Preocupado com o drama dos menores de Itaporanga, Júnior solicita da Prefeitura a instalação da Casa de Passagem. Conforme ele, o prédio que abriga atualmente o conselho recebeu algumas melhorias do poder público municipal e, com pouco investimento, poderia ser transformado em um centro apropriado para internamento temporário de crianças. “Apelo à Prefeitura e à sociedade que nos ajude, porque fazendo por essas crianças agora, nós estamos livrando esses menores do crime e construindo uma sociedade sem violência”, enfatiza emocionado o conselheiro. Fotos: menor que furtou o espeto em uma de suas passagens pela delegacia; e o conselheiro Júnior emocionado ao falar de sua sensação de impotência diante de realidade tão difícil. 

Publicado pelo Folha do Vale em 06-05-2011

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