quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

POESIA MATUTA - O JÚRI

O JÚRI
Pompílio Diniz


Num hái, no mundo, home mole
Dêsse ditado num isqueça:
“Quem cum muntas peda bole
Uma lhe quebra a cabeça!”
“Boa rumaria faz
Quem em casa fica im paz”
Pra qui nada lhe aconteça...

Veja bem: im Conceição,
Havia um cabra valente
Qui tinha pur profissão
Batê im cara de gente
Brigava cum cinco ou seis
Cum ele num tinha vez
Nem respeitava ambiente!

Zé de Soiza, onde chegava,
O povo todo curria
Delegado se trancava
E a puliça se iscondia
Inté os Santo do artá
Quando via ele passá
Fechando o zói se binzia

O contráro desse home,
Tombem tinha em Cunceição
O cabôco Zé Girome
Vagaroso e molêrão...
Pois arrepare Dotô:
Foi Girome quem matô
Zé de Soiza, o valentão

Dispois foi preso e jurgado
Pelo Juiz de dêreito
Qui tombem é delegado
Cum izercíço de prefeito...
É ele em nossa cidade
Um home de oturidade
E o qui fizé tá bem feito!

No dia do jurgamento
O pessuá se ajuntô
Pra iscuitá os dipuimento,
Pra vê Girome depô
Lá pru meio da odiênça
O Juiz pidiu licença
E a Girome preguntô:

- Foi voimicê quem matô
O difunto qui morreu?
E Girome arrespostô
- Mas seu Juiz quem sou eu!...
Zé de Soiza era um bandido
E voimecê tá isquicido
Da surra qui ele lhe deu?!...

O Juiz se istremeceu
E adispois torno falá:
- Você responda pra eu
Somente o qui eu preguntá
E num foi surra nhôr não,
Foi somente uns impurrão
E pode cuntinuá

- Pois eu só dixe: ô seu coisa!
E o finado respondeu:
- O meu nome é Zé de Soiza,
Qui é qui ocê qué cum eu?
- Eu só quero qui seu Zé
Pru favô tire o seu pé
Qui tá pru riba do meu!...

Voimicê ta machucano
Os calinho do meu dedo!...
Ele entonce foi me oiano
Cum cara de faze medo
E falô  assim pra eu:
- Se quizé qui tire o seu,
O meu num tiro tão cedo!

- Nesse momento dotô
Somente pra num brigá
Imbora sintino a dô
Eu dexêi ele pisá
Dispois afastei o pé,
Foi quando o finado Zé
Caiu sem eu lhe impurrá!...

Seu juiz vá curiano:
Nessa merma ocasião
Eu tava as unha cortano
Cum a pexerinha na mão
Cuma o finado num viu
Prurriba dela caiu
Num tive curpa Nhor, não!

Sabe o dotô  cuma é:
Metê  mão no pé do uvido
Pisá nos calo do pé
Divia sê pruibido...
É pru mode essas bestêra
Qui pru riba da pexêra
Muita gente tem caído

Quando o finado caiu
Foi liquidado o assunto...
O povo fez qui num viu
Mas cuma eu tava ali junto
Fui logo acendeno a vela
E ele isticano a canela
Num instante virô difunto

Pregunto agora ao dotô
Quem foi qui fez labacé
Quem nos meus calo pisô
Não foi o finado Zé?
A pexêra fez o resto...
Eu cuma sô home honesto
Apena afastei o pé!

Entonce o juiz falô:
Dispois do réu se calá
- Pelos carcos qui eu já fiz,
Vou Zé Girome sortá...
Cuma a lei é justicêra,
Vou condena a pexêra
Qui na prisão vai ficá!

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