Pregava em suas lições a Justiça Social desejada por muitos. A concepção, a vida e o patrimônio sócio-cultural deixado por Paulo Correia é um exemplo maior de luta e de vida a incutir na mente das pessoas um símbolo progressista, o trabalho pela educação, a evangelização e conscientização da massa. E, foi assim, que Paulo Correia, começou a desenhar a sua inesquecível memória.
Aquele que seria no futuro um forte defensor dos povos oprimidos nasceu no Barrocão, no ano de 1941: Vindo o seu pai a morar esta cidade, no ano de 1949, e foi que Paulo teve a felicidade de encontrar como professora, Dona Maroquinha Leite, mas Paulo não se conformou apenas com a educação, por aprender a escrever e a ler, e foi assim que ele aos nove anos de idade, veio a ser coroinha da Igreja, demonstrando assim, a sua inclinação pelo lado religioso, até que um foi para o foi parar no seminário, e consagrou-se como seminarista, arrancando dali, lições de justiça social para lutar em prol do povo necessitado do campo ou da cidade.
Mas Paulo, por ser dinâmico e atuante, não se conformou a ficar no seminário vendo o chamamento do homem do campo, e lá foi Paulo. Deixou o Seminário em 1965, e foi engajar-se na Pastoral da Igreja, pelo Nordeste cumprindo sua missão de homem identificado com a massa e nas lutas de conscientização, e principalmente do homem do campo, até que um dia, como se o destino tivesse traçado-lhe as linhas do que ele gostava de seguir e de fazer Paulo Correa, sofre um acidente automobilístico, e vem a falecer no dia 12 de outubro de 1968. Sobre sua morte, escreveu sua irmã Maria Correia: “Agora, Paulo caminha não mais através do espaço, mas do campo. Na discussão das décadas. Na saudade e na memória de mãe, manos, parentes, colegas e amigos, vão passando”. Um de seus filhos mais nobre, mais geniais, mais inteligentes e mais puros, cuja vida foi ceifada muito cedo.
Assim ocorreu a morte de Paulo Correia da Silva, filho de José Correia da Silva e de Maria Correia da Silva, nascido em Itaporanga a 28 de fevereiro de 1941, e responsável pelo Movimento de Adultos - ACR - no Nordeste Brasileiro. No sábado, 12 de outubro de 1968, ele seguia com outros colegas com destino à cidade de Sairé, onde iam promover uma reunião a convite do Padre Rogério, vigário de Bezerros (PE), que pretendia começar o movimento da ACR, naquela cidade. Seguia alegremente, quando a certa altura da estrada, um dos pneus do jeep estourou virando o carro sobre uma barreira, fato que ocasionou grave acidente, saindo quase todos feridos, sobretudo Paulo, que ficou inconsciente em consequência de um trauma craniano.
Pessoas que chegavam ao local, levaram os feridos, imediatamente, para o Hospital Pronto Socorro de Caruaru (PE), onde Paulo ficou hospitalizado, em estado de coma, vindo a falecer às 21h, assistido por Renor e Leônidas, companheiros de movimento e alguns padres de Caruaru. Paulo não pôde ver, fitar o abismo frente à morte. Não sendo que a estrada única, a que devia seguir, não tinha regresso. Era caminho sem volta. Não pressentiu à sua frente o único abismo que não tem vazio. Estava inconsciente desde a hora do acidente: meio-dia de um sábado. Se sentiu e viu, se pressentiu foi rápido o momento.
Eram 21h do dia 12 de outubro de 1968, Paulo Correia, o primogênito, órfão de pai há três meses, responsável por uma família, rapaz de intelecto insondável, de virtudes raras, Paulo que via todas as estradas dos homens caminhando entre os próprios homens, morria com apenas 27 anos de idade. Treze deles passara no Seminário; três em lutas e conscientização religiosa, social, humana ao homem do campo, lutas que se estenderam a todos os estados do Nordeste e do sul do País. Desde a hora do acidente que D. Hélder Câmara tentava comunicar aos familiares o ocorrido. O movimento dos padres e colegas tomou-se intenso do Recife a Caruaru. Três especialistas a cabeceira de Paulo, mas Deus tinha planos insondáveis a seu respeito e todos os esforços médicos para salvá-lo foram infrutíferos. A partir das 21h do dia 12 o cadáver do jovem paraibano estava sendo velado pelos colegas pemanbucanos. Maior necessidade, maior esforço para comunicar à família. Mas não conseguiram entrar em cadeia com o Rádio Amador de Itaporanga.
Finalmente às 4h, da manhã do dia 12, decidiram-se a conduzir o cadáver a Itaporanga. Seus dois colegas e amigos: Renor e Leônidas incubiram-se da sagrada tarefa. Mesmo sem conhecerem o trajeto, orientando-se pelo mapa, chegaram à cidade de Piancó, onde encontraram os Padres Valdomiro Batista e José Lopes que, solidários, deixaram suas cidades, prestando a sua última homenagem àquele que se dera tanto à causa da Igreja e do seu povo. Mesmo sem a família saber, o cadáver já vinha a caminho; enquanto sua mãe e manas o esperavam no dia seguinte para cuidar dos negócios da fazenda, lá vinha ele, inerte, trazido, deixando atrás a Grande Família ACR, a Arquidiocese do Recife, chorando o desaparecimento do grande lutador que, ao lado de Padre Serivat e D. Hélder Câmara, muito realizara no movimento pela promoção dos que vivem, sofrem e morrem no anonimato.
Ás 16h, do dia 13, o corpo de Paulo Correia chegava a Itaporanga. Mas somente às 16h30, a família veio a tomar conhecimento do fato, triste, desumano, esquisita certeza. Às 16h40, chegava ao seu lar, testemunhas das alegrias e tristezas, o ser inerte, sagrado, amado, infundindo respeito, reverência, admiração, ungindo de silêncio e mistério de sua residência, de sua cidade natal. Paulo Correia estava ali, e não só a família, não só os colegas, estava ali, a cidade inteira a prantear sua morte.
A Comunidade das Irmãs Carmelitas do Colégio Padre Diniz, onde ele estudara quando criança, representada pela Irmã Irene e Irmã Inez, a classe estudantil, os amigos, professores, incubiram-se da sublime tarefa de lavar conforto à família enlutada e o fizeram com humanidade e arte, como só o fazem as pessoas que vivem à luz da fé, que vivem com Deus. E consumiam horas e horas, dias consecutivos nessa sublime missão de solidariedade e amor.
O Padre José Sinfrônio, pároco da cidade, e outras pessoas, tomaram a iniciativa dos funerais. E às 19h30, a cidade conduzia o seu filho, o jovem estudante de Sociologia para a sua última morada. Devido à falta de energia elétrica as velas iluminaram a caminhada. Já não era hora dos sinos tocarem afinados. O silêncio dos bronzes, uniu-se ao silêncio das casas e tudo pareceu mais fúnebre ainda. Suas irmãs, a família ACR, representada pelos seus colegas, a própria Itaporanga o levou, sentindo que enterrara um pedaço de si mesma.
Paulo quando em vida quis continuar a sua missão, corrigindo o analfabetismo entre os homens. Para servir, caminhando por entre os homens, Paulo “sacrificou o sacramento da Ordem. Desapareceu da sociedade mistificada, desprovida de valores, para ficar no meio da classe rural, entre os usineiros e plantadores de cana-de-açúcar. Enfrentou dias terríveis. Habitou solidões. Alongou vigílias. Caminhou entre nômades. Sacrificou a própria vida de Monge, nos claustros não teria feito tanta penitência. Transformou sua vida em ofertório de amor ao mais fraco. Tudo isso para servir mais e melhor à humanidade".
Texto escrito por sua irmã, Maria Correia Filha, em 15/11/1968, um mês após sua morte.
Revista "Itaporanga, 144 anos de história"
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