quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Personalidades que construíram Itaporanga – Padre Zé


José Sinfrônio de Assis Filho nasceu no Sitio Barroso, em Cajazeiras, no dia 24 de maio de 1924, filho de José Sinfrônio de Assis e Ritinha Coelho de Assis. Ingressou no seminário no dia 2 de fevereiro de 1939, em João Pessoa, ordenando-se padre em primeiro de ovembro de 1951. O primeiro período, de trabalho, que ultrapassou um ano e meio foi na cidade de Pombal, na condição de coordenador do Monsenhor Vicente. Depois chegava a Cajazeiras, sua terra natal, para ser secretário do bispado, no tempo de Dom Zacarias Rolim de Moura. Posteriormente quando o seminário que teve a sua participação na edificação ficou pronto, o Padre Zé Sinfrônio era deslocado para Itaporanga, no propósito único e exclusivo de servir ao povo. 

Um empreendedor com visão de futuro aguçadíssima e muito otimista. Fez uma revolução cultural no interior da Paraíba - Itaporanga - nos idos de 1965. Muitas são as referências de trabalho do Monsenhor José Sinfrônio em Itaporanga. Presidiu a Associação de Proteção à Infância para concluir a construção do Hospital Distrital, que até hoje representa um grande socorro à população do Vale do Piancó, notadamente, a mais carente. O envolvimento do Padre Zé com os pleitos da população era de tal forma que viabilizou, através de seus atos, a implantação da telefonia. Com tal beneficio, acabou o enorme problema da falta de comunicação com as localidades mais distantes. Naquela época o sistema era denominado de Serviço Intermunicipal de Comunicação do Vale. 

Pe Zé foi responsável pela ampliação, em 16 metros, da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição além de várias outras modificações dentro do seu processo evolutivo. A construção do Colégio Diocesano “Dom João da Mata”, único colégio católico ainda em atividade na Paraíba, é também mais uma façanha desse benfeitor, que com a ajuda do povo conseguiu melhorar consideravelmente o setor educacional na região. Para tocar a obra tangeu burro pela zona rural arrecadando arroz através de doações para vender e desmanchar na educação. O Pe Zé Sinfrônio foi tão audacioso que chegou a conquistar a energia elétrica através de contato com o então Presidente da República Juscelino Kubistcheque, em solenidade de inauguração do açude de Coremas. O sinal de TV, a partir da Rede Tupi é mais uma referência desse baluarte. 

Entre outras ações do Padre Zé Sinfrônio, destacam-se: a fundação da Banda de Música Filarmônica “Cônego Manoel Firmino”, de onde saiu músicos de renome internacional e se constitui numa oportunidade impar para os jovens; instalou a Gráfica “Monsenhor José Sinfrônio”, que proporciona um importante espaço de profissionalização; Implantou a Casa do Menor “São Domingos Sávio”; dentre outros feitos. Porém, sua mais importante construção é, ao mesmo tempo, o ponto turístico do Vale do Piancó: a estátua do Cristo Redentor. Tudo começou em 1955 quando da sua chegava a Itaporanga, na época uma das cidades mais violentas da Paraíba. Conta-se, que a ideia de uma grande estátua surgiu como promessa feita pelo vigário durante a seca de 1982, para livrar os conterrâneos das invasões de flagelados com saques ao comércio e às feiras livres. Não invadida, Itaporanga começava a ganhar o Cristo que o padre prometeu aos céus. Na cidade, que nasceu com o nome de “Misericórdia” em 1865, ninguém parece ter dúvida alguma quanto ao fato de que as oportunidades de emprego e renda decorrentes da afluência de visitantes estarão ampliadas ali sob o manto do Cristo Rei, com ressonância em populações vizinhas. Ele alcançou seu desejo e algum tempo depois começou a construí-la, inaugurada no ano 2000, com 31 metros de altura, que só perde em tamanho para o xará do Rio de Janeiro, que tem 38 metros, e para a Estátua da Liberdade, com seus 54 metros de altura. 

O Colégio Diocesano “Dom João da Mata” foi construído com participação e doação de toda a sociedade local. Estudar no Ginásio era um privilégio, pois além das aulas previstas na grade curricular do ensino médio, havia uma fonte de saber o do futuro que cada um poderia construir em suas vidas; a música. Ele quebrou todos os paradigmas que ali existiam. Mostrou o passo a passo do futuro e que o saber era maior do que a tradição falida e mostrava que o brilho viria pelo conhecimento, não pela herança de um sobrenome. Os filhos de Itaporanga começaram a mudar os seus conceitos e os seus valores. O saber virou moda e a cidade começou a ouvir um som diferente, um som local, o som produzido por seus filhos. Todos felizes e de alma lavada. Meninos passaram a artistas e o povo começou a entender a arte. Foi quase uma revolução cultural. Padre Zé ocuparia a função, ensinada por Cristo, de levar a luz onde existissem trevas. Então vejamos, o ato de trazer para o Ginásio, hoje Colégio Diocesano, ensino de música, de datilografia (saudoso), de secretariado, de enfermagem, de práticas agrícolas, além das disciplinas fundamentais do estabelecimento educacional, é no mínimo, noção de uma pessoa dotada de visão futurista, de visão transformadora do ambiente onde vive. Ele era Vigário da cidade, Diretor do educandário, Professor, Educador. Foi na área da educação seu maior legado para a região do Vale do Piancó. Gerações e gerações de jovens terminariam o ensino básico lá no Ginásio e enveredavam em busca de novos horizontes. 

Era uma das autoridades de prestígio dentro de uma cidade e que fazia merecer tal préstimo; Como Diretor Educacional possuía uma forma renomada de dirigir o estabelecimento; como Professor lecionava as disciplinas de ordem religiosas e políticas e como Educador complementava ou criava a nova formação moral, pois a formação dos jovens se complementa na escola. Assim contribuía com a moral e com a disciplina dos jovens. Itaporanga e região hoje têm diversos Doutores, Mestres, Graduados e bons técnicos espalhados pelo Brasil e pelo mundo eu diria, em cuja origem se deu no Ginásio do Padre. Ginásio esse, fruto de uma ideia e da coragem desse líder chamado Padre Zé, como, carinhosamente, era chamado. 

O Monsenhor José Sinfrônio de Assis Filho faleceu no dia 19 de setembro de 1996, por volta do meio-dia, no Hospital da Unimed, em João Pessoa, devido a um quadro de insuficiência respiratória. Tratava-se de um câncer e estava internado no Hospital há uma semana. O velório foi realizado na Central de Velórios São João Batista, onde contou com a presença de centenas de filhos de Itaporanga, como também a presença de diversos políticos e líderes estaduais, como o Governador do Estado Cássio Cunha Lima, que foi levar os seus sentimentos ao maior benfeitor de Itaporanga. O corpo do Monsenhor José Sinfrônio está sepultado lá na Serra do Cantinho, sob a estátua do Cristo Redentor. 

Dada toda a sua ,perseverança, trabalho, dignidade e vocação, a diocese de Cajazeiras, pastoreada na época por Dom José Patrício de Macedo, solicitou da Santa Sé e Sua Santidade, na ocasião, o Papa João Paulo 11, concedeu-lhe o mais digno e respeitoso Título de Monsenhor, à quem há 46 anos prestava serviço à comunidade do Vale do Piancó. E no dia 10 de abril de 2001 o bispo Dom Matias, em nome de Sua Santidade entregou o título numa inesquecível celebração na Matriz N. S. da Conceição. Padre Zé, na verdade, foi mais do que um religioso, foi um educador, um conselheiro, um estudioso, um humanista, um exemplo. 

Revista "Itaporanga, 144 anos de história"

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