No tempo em que médico era coisa rara e um privilégio apenas para ricos e poderosos, muitas vidas foram salvas graças a um sertanejo natural de São José da Lagoa Tapada e apelidado de Antônio de Chil. Um pouco letrado, mas a inteligência e a vivência deram a dose certa para transformá-lo em um salvador de vidas. Centenas de itaporanguenses e tantos outros filhos do Vale do Piancó, de algumas décadas atrás, não teriam sobrevivido se não fossem os remédios indicados por seu Antônio de Chil.
O médico dos pobres, como era de fato e pode ser considerado, resistiu o quanto pôde para não deixar o balcão da Farmácia Santo Antônio, que foi montada primeiro em São José de Caiana, cidade que ele ajudou a erguer, construindo a Igreja, o mercado e muitas outras obras que ajudaram a povoar e a desenvolver o vilarejo, que depois se tomou distrito e, em seguida, município,
No final da década de 60, ele transferiu residência e a farmácia para Itaporanga como forma de garantir o estudo dos oito filhos, conquistando também a simpatia e o respeito do povo itaporanguense. A grande popularidade o levou política. Ligado ao líder Praxedes Pitanga, Antônio de Chil chegou à Câmara Municipal de Itaporanga como representante do distrito do Caiana, à época pertencente ao município itaporanguense.
A política partidária também trouxe dissabores. Perseguido pelos adversários de Pitanga, viveu momentos difíceis, o principal foi quando teve sua farmácia, temporariamente fechada, apesar do importante serviço que prestava à população. Apesar das dificuldades enfrentadas ao longo de 92 anos, Antônio de Chil conseguiu educar os filhos, dois dele residentes em Itaporanga, a professora Júlia Mendes, ex-secretária municipal de Educação, e o bioquímico Gaudêncio Mendes ex-secretário municipal de Saúde e ex-diretor do Hospital Distrital de Itaporanga, que deu seqüência a obra do pai ao reestruturar e modernizar a farmácia, de onde saíram fórmulas, somadas a fé que o povo tinha no velho farmacêutico, curaram muita gente.
Curaram principalmente crianças, maiores clientes de Antônio de Chil, trazidas pelos pais dos sítios longínquos, dos povoados e distritos distantes, muitas já chegavam a farmácia à beira da morte, mas sobreviviam. Em um tempo em que as pessoas tinham poucas informações sobre métodos preventivos de saúde e cuidados infantis, além da total falta de médicos, associada à pobreza das famílias, qualquer enfermidade poderia ser fatal para as crianças devido à fragilidade natural do organismo infantil e a desnutrição, outro problema comum à época. Mas que estava nas prateleiras de Antônio de Chil a esperança de vida ressurgida.
Revista "Itaporanga, 144 anos de história"
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