domingo, 11 de janeiro de 2015

Nos 150 anos de Itaporanga, um descendente de um dos fundadores da cidade vive jogado nas ruas

Uma história de exclusão no aniversário da mais rica cidade regional


Por Redação da Folha - José Gomes de Sousa é um nome estranho para a maioria dos itaporanguenses, mas quando se fala em Zé Marreca, atualmente com 56 anos, são poucos os que não o conhecem. Nas veias do mais famoso e antigo morador de rua de Itaporanga corre o sangue de um dos fundadores da cidade, Alexandre Gomes, e Zé herdou também o nome de um parente ilustre, o ex-prefeito local José Gomes.

Certamente, quando contribuiu para a fundação deste município, não imaginou que, dois séculos depois, um dos seus descendentes estaria vivendo nas ruas em completo abandono. Zé teve pouca convivência com os pais e vive em situação de rua desde a adolescência, quando as dificuldades e a exclusão levaram-no ao alcoolismo, mas é uma pessoa consciente de suas necessidades. “O que eu mais queria agora era um quartinho para dormir”, disse ele, que passa as noites no terminal rodoviário ou em um posto de combustível.

Sem nenhuma renda, ele depende da caridade pública para se vestir e se alimentar, mas tudo precariamente. Ele, que passa o dia perambulando pelas ruas, muitas vezes humilhado e maltratado, também não possui documento, vivendo em uma completa exclusão. Em casos como este, independentemente da origem familiar, o poder público tem obrigação de garantir melhores condições de vida à pessoa como fundamento do direito humano, mas até agora Zé continua marginalizado.

Diante dessa omissão, a fundação humanitária José Francisco de Sousa está tentando, mesmo atualmente sem recursos, retirar a documentação pessoal de José Gomes para que ele possa pleitear algum benefício social: Zé precisa da segunda via do registro de nascimento, que custa 50 reais e, posteriormente, será requerida sua identidade e CPF, o que pode ser um passo importante para garantir dignidade ao um tão sofrido filho de Itaporanga, terra que, nesta sexta-feira, 9 de janeiro, está completando 150 anos de emancipação política. O municípo chega a mais um aniversário como o mais rico e populoso do Vale, mas grande parte dos seus filhos não tem o que comemorar. 

Publicado pelo Folha do Vale em 09-01-2015

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