terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Personalidades que construíram Itaporanga – Salomé Pedrosa


Para o povo de Itaporanga Dona Salomé Pedrosa é a síntese da bravura, da lealdade e do caráter que sempre nortearam as mulheres de Misericórdia. Sobre D. Salomé conta-se muitas histórias e ninguém foi mais respeitada e admirada do que ela. Pequenina, rica, sempre elegante, pisando firme do alto dos seus sapatos com alguns centímetros de salto, Salomé, casada com Josué Pedrosa, um misto de financista, industrial e agropecuarista, não dispensava o perfume francês e era figura presente em todos os acontecimentos da cidade. Nos bons momentos e nos tristes acontecimentos, em festas políticas e sociais, casamentos e batizados ela estava sempre presente. Foi madrinha de quase todas as crianças que nasceram na sua época. 

Ela, melhor do que ninguém deu demonstrações de apego e solidariedade aos seus conterrâneos, saindo das fronteiras do lar, deixando de lado preconceitos e costumes mesquinhos para ajudar aos mais humildes, não medindo esforços, desconhecendo sacrifícios e demonstrando valentia e incomum para os padrões de sua época. Três histórias que contam sobre ela são bem representativas do seu espírito evoluído e justiceiro. Certa feita, uma prostituta, moradora do baixo meretrício de Misericórdia, estava em vias de dar a luz a uma criança, mas na cidade não tinha quem fizesse o parto. D. Salomé, informada, foi pessoalmente cuidar da meretriz. A cidade assombrou-se com a sua atitude, afinal a zona boêmia era lugar proibido para uma senhora casada. Para ela, no entanto, àquela era apenas uma mulher precisando de ajuda, pouco importando o que ela era e o local onde se encontrava. 

De outra feita, quando da vitória do Movimento Liberal, em 1930, a Polícia Militar, estimula:da pelos novos donos do poder, saiu à caça prendendo simpatizantes do perrepismo, representado no sertão paraibano pelo coronel José Pereira. Apesar de toda fúria policial, as prisões não passaram de duas ou três. Todas de pessoas humildes. D. Salomé soube do que estava ocorrendo e, sem papas na língua! exigiu a libertação dos presos dos presos  e a prisão ficou vazia. Os pobres foram soltos e os mais abastardo apontados por ela nunca chegaram às celas. 

Pacifica por natureza, a D. Salomé não interessava o tamanho do perigo desde que fosse para servir ao próximo. Misericórdia sempre cultivou inimizades entre famílias. No auge da querela, a mulher de Chico Nitão estava entre a vida e a morte, debatia-se há dois dias com as dores de um parto que não se consumia. Era preciso a intervenção de um médico e o único da cidade era Dr. José Gomes da Silva, inimigo de sangue dos Nitão. D. Salomé Pedrosa resolveu intermediar a questão, foi a Zé Gomes e pediu que ele cumprisse com o seu juramento de médico, e este, após algumas ponderações, concordou em atender a paciente desde que o seu marido não estivesse em casa. Feito o acordo, o médico foi até a residência do inimigo e salvou a mulher e o menino que nasceu forte e sadio. Quando Dr. José Gomes deixava a casa de a casa de Chico Nitão o encontrou sentado alguns metros. Nitão quis saber então quanto devia ao médico pelos seus serviços. Zé Gomes respondeu-lhe que ele não lhe devia nada. Foi última vez que eles se falaram.

Solenidade de inauguração da placa da rua que recebeu o nome de Salomé Pedrosa. 
Na foto, o marido Josué Pedrosa, filhos e netos. 
Assim era D. Salomé: firme, presente, solidária. Aliás, a disposição pelo bem público é uma das características das mulheres da família Fonseca. D. Salomé Pedrosa foi-se, mas o interesse pela política continuou atravé de Netinha Vieira e Ivete Pinto. Netinha foi prefeita de Ibiara. Ivete aprendeu a formar líderes. Aprendeu com Soares Madruga e ensinou algumas nuanças da política a Djaci Brasileiro, Kátia Brasileiro e José Silvino. Não foi prefeita, mas ajudou Kátia Pinto, sua primogênita, a tomar-se a primeira e única mulher a administrar Itaporanga. D. Salomé Pedrosa é, pois, a síntese da altivez de todas a mulheres de Misericórdia. Um exemplo para os mais jovens e adultos de Itaporanga. 

Revista "Itaporanga, 144 anos de história"

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