domingo, 21 de dezembro de 2014

A lição de Júlio Charles

Carlos Aranha

Não vou externar aqui o sentimento em relação à morte de Júlio Charles, de quem tive o prazer de ser amigo desde os inesquecíveis dias e noites do Limousine 58. Já o fiz desde sábado - pelo Orkut e na lista Essas Coisas On Line - e em matéria publicada ontem na capa deste caderno.

O espaço desta quarta-feira é para dizer o quanto de produtiva foi a lição que Júlio Charles deu a quem faz (ou pretende fazer) produção musical na Paraíba. Não foi por mera semelhança e coincidência que o Limousine 58 levou mais de 15 mil pessoas a um de seus shows, na Praça do Povo do Espaço Cultural, nem fez com que emissoras de rádio na Paraíba toda, e em Estados vizinhos, tocassem músicas como “Colorido recente”, “Marcou geral” e a belíssima canção “Mistério” (na marcante interpretação de Ricardo Fabião).

Foi resultado de persistência do criador do Limousine 58. Como escreveu Ricardo Fabião: “Júlio era a coragem, era quem dava os passos, quem içava as velas, quem checava os nossos motores. Estava sempre à frente, conferindo o tempo, as cores, as coisas, sinalizando o devir”.

Entenda-se que Júlio Charles não era somente compositor. Ele sabia que não adiantava apenas ter qualidade, fazer pose de independente para os “culturalmente corretos”. Júlio sabia que havia um mercado a enfrentar. Ou melhor: um entrar no mercado. Nisso, foi pioneiro, no gênero pop-rock, em todo o Nordeste. Se o grupo não tivesse acabado, por desentendimentos internos e não por falta de sucesso, com mais um disco teria explodido nacionalmente. Seria inevitável. Mas, há desígnios que a mente humana não alcança.

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Assim aconteceu. O Limousine 58 foi grupo de um disco só, mas que “marcou geral”. Júlio Charles seguiu rigorosamente a regra de que assim como “cinema também é diversão”, música também é mercado. Foi isso que criou uma “Geração Limousine 58”. São pessoas que hoje têm entre 35 e 50 anos de idades, conservam o LP, conseguiram o remasterizado, baixam músicas na Internet (mostrando-as aos filhos), sorriem quando escutam “ah, essa cor de paixão” e agora choram com a letra de “Mistério”.

O Limousine 58 foi a Blitz paraibana, nossa irreverência e alegria dos anos 80. A reação do público, da juventude, era espontânea, mas até chegar ali teve que existir um grande produtor para o grupo. Esse foi o enorme papel de Júlio Charles. Foi a maior lição que deixou Infelizmente, os que hoje improvisam produção esquecem que sem mercado não há platéia. Show não é apenas colocar os músicos sobre o palco. É muito mais. Não é, Júlio?

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