O Ministério Público de Itaporanga (foto) está apurando o caso.
Uma simples dona de casa, Maria das Graças de Sousa, tão somente preocupada com a integridade física dos seus filhos, assim como outras mães de família do Curimatã e Tabuleiro, zona rural de Itaporanga, foi envolvida em uma polêmica estadual e passou a sofrer pressão psicológica da Prefeitura. Isso somente porque pediu, através de um familiar que reside na cidade, solução para um problema gravíssimo: as crianças estavam sendo transportadas à escola, no sítio São João, em um caminhão sem qualquer segurança, carro também destinado à limpeza urbana da cidade, como admitiu a própria secretária municipal de Educação em entrevista à rádio Correio local nesta quarta-feira, 23. A denúncia de que crianças estavam sendo transportadas em um caminhão de lixo foi publicada inicialmente no domingo, 20, pelo site da Folha depois de ouvir pessoas das localidades. Inclusive, durante o programa, um ouvinte do São João entrou ao vivo e também se queixou do mau cheiro do carro utilizado para o transporte dos estudantes.
Ao admitir o erro, a secretária pediu perdão às famílias das comunidades rurais, cujas crianças estavam sendo transportadas em um caminhão alto, sem assento, sem coberta e, portanto, impróprio para meninos de seis a oito anos. Como o fato existiu, conforme a própria chefe da pasta educacional, não havia nenhuma necessidade da Prefeitura enviar um funcionário seu com um gravador na mão até à residência da dona de casa para arrancar dela um depoimento desnecessário e posto no rádio.
Notadamente nervosa e tímida, a mãe de família, inquirida pelo servidor público transvestido de delegado de polícia, diz que não prestou entrevista pessoal e direta a nenhum jornalista, mas a pergunta que o assessor da Prefeitura deveria ter feito à mulher e às outras mães da comunidade era sobre as condições em que seus filhos estavam sendo transportados. Se ele tivesse feito esse questionamento, o gravador do Município teria voltado à cidade cheio de queixas e reclamações, as mesmas que também chegaram à reportagem da Folha na manhã do domingo, 20, e posteriormente ao Ministério Público.
Mas tudo foi feito para tentar desqualificar a denúncia, que a própria secretária admitiu ser verdadeira, até porque contra fatos não há argumentos. A gravação realizada com a dona de casa, mulher sem nenhum costume de se expressar em rádio, foi um desrespeito à cidadã, exposta desnecessariamente e que, a partir de agora, poderá ser perseguida e pressionada pelo poder público local. Mesmo destino que teve, por exemplo, a presidente do Conselho de Alimentação Escolar ao denunciar, no final do ano passado, que a Prefeitura estava distribuindo merenda de qualidade duvidosa para os alunos das escolas municipais.
Em vez de querer questionar juridicamente os que produziram a denúncia verdadeira, a Prefeitura deveria era agradecer a descoberta do problema antes de uma tragédia: se alguma criança tivesse sofrido qualquer tipo de dano físico, a dor de cabeça do Município seria bem maior, embora os responsáveis pelo transporte irregular já tenham cometido um crime (expor menores a risco moral e físico) previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. O caso já chegou ao conhecimento do promotor da Infância e Juventude, dr. Eduardo Torres de Freitas, que já tomou algumas providências na manhã desta quarta-feira: mandou um oficial do Ministério Público (foto) ao sítio para conversar com a dona de casa, que confirmou a denúncia feita pela reportagem da Folha. O promotor também determinou uma fiscalização no local para saber se o problema tinha sido resolvido. Conforme dr. Eduardo, o caminhão foi substituido por uma caminhoneta. Ele exigiu da Prefeitura um esclarecimento por escrito.
Publicado no Folha do Vale em 23-02-2011
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