domingo, 7 de dezembro de 2014

A Villa de Misericordia


Tudo Começa com o sertão sendo ocupado

Como a maioria das cidades nordestinas, Misericórdia nasceu à beira de um rio, e em tomo de uma capela. Antônio Vilela de Carvalho, um desbravador português, chegou à região por volta de 1765, após comprar aos D’Ávila, fidalgos da casa da Torre, representantes reais residentes na praia do Forte, na Bahia uma grande faixa de terra, onde construiu uma casa de morada e um curral para criação de gado, à margem do Rio Piancó. Ali, anos depois, começou uma pequena povoação que depois passou a ser conhecida por Misericórdia Velha, já que os primeiros habitantes do lugar atravessaram o rio e foram fixar-se na outra margem, onde construíram uma pequena Orada que consagraram a Nossa Senhora do Rosário, a exemplo do que fizeram os moradores de Piancó e Pombal, as primeiras povoações e cidades do sertão paraibano, que ainda conservam as velhas igrejas que tem essa denominação. Aliás, o nome Misericórdia advém do fato de ter sido doada pela Santa Casa de Misericórdia de Portugal a pequena imagem da Virgem que ainda hoje está na cidade de Itaporanga. 

A ocupação dos sertões da Paraíba confiada a família de Antônio de Oliveira do que conquistou esse direito junto a Casa Torre, símbolo maior dos Garcia D’Ávila, nobres portugueses donos de uma vasta Sesmaria que ia da Bahia até o Maranhão. Na segunda metade do século VXII, por volta de 1679, uma expedição, com 60 homens, partiu Massacará, na Bahia, para explorar o interior paraibano. Chefiada por Antônio de Oliveira Ledo, a comitiva era integrada ainda por Pascásio de Oliveira Ledo, Theodósio de Oliveira Ledo, Francisco Pereira de Oliveira Ledo, Felipe Rodrigues (filho de Pascásio), e Atônio de Oliveira Ledo Neto (filho de Francisco Pereira). Eles seguiram pelas margens do Rio São Francisco até a altura de Santo Antônio da Glória, onde alcançaram o Rio Pajeu, e logo depois transpuseram a Serra da Baixa Verde, em Triunfo (PE), conseguindo finalmente ingressar no sertão da Paraíba. 

Os exploradores chegaram até a confluência dos Rios Piancó e Piranhas, onde hoje se localiza o município de Pombal, mas logo retomaram a Bahia, ficando por aqui apenas Theodósio e seus homens que, por três anos, fizeram diversos incursões pela área. Por volta de 1682, o capitão-mor dos Vales do Piancó e Piranhas, título que lhe foi concedido das autoridades da Colônia, viaja para o cariri paraibano. Nesta ocasião acontece a revolta dos indígenas da região sertaneja, movimento que ficou conhecido como a Confederação dos Índios Cariris. Theodósio regressa ao sertão, captura alguns índios da tribo Arius e viaja para Salvador, Bahia, onde tem uma audiência com o governador Soares de Albuquerque, e faz um relato da situação e mostra a necessidade de repovoar o interior paraibano e iniciar a criação de gado em toda a área, no que foi prontamente atendido, regressando então para o Vale do Piancó à frente de uma grande expedição e com muito gado. 

Em 1730, já bastante velho e cansado, Theodósio deixa definitivamente os sertões de Piancó e Piranhas, indo fixar-se no cariri paraibano. Suas terras e o seu comando passaram então para as mãos do comendador Gaspar D’Ávila Pereira, que teve que travar sangrentas batalhas com os índios Cariris, principalmente os das tribos Pêgas, Panatis e Coremas, sendo que a esta última comunidade pertencia o guerreiro Piancó (Terror na língua nativa), cujo nome foi emprestado a região, 


O início da povoação

A resistência oferecida pelos homens primitivos da região não durou muito tempo. Afinal os desbravadores eram mais adestrados, organizados e possuíam armas de fogo, como bacamartes e espingardas, que causaram pesadas baixas ao inimigo. Partindo de Pombal alguns aventureiros fundaram algumas léguas acima, numa fazenda de gado do capitão-mor Manoel de Araújo Carvalho, um lugarejo que deu origem ao município de Piancó. Foi de Pombal e com autorização de Gaspar D’Á vila que o sertanista Antônio Vilela de Carvalho ocupou as terras das margens esquerda do Rio Piancó, onde implantou o sitio Misericórdia, e construiu um curral, algumas casas de taipa e uma pousada para os viajantes e tropeiros. 

Anos depois Joaquim Fonseca, também conhecido por Joaquim Carnaúba, João Madeiro, Alexandre Gomes da Silva e Padre Lourenço, moradores do sitio outra margem construíram algumas casas. Trataram também de ocupar as terras em tomo do pequeno lugarejo. Camaúba ficou com as terras que compreende a Várzea do Saco e outras porções, Madeiro com o Cantinho, os Gomes com a Misericórdia Velha e Padre Lourenço tratou de negociar entre eles a demarcação de uma área para a construção de uma capela dedicada a Virgem do Rosário. O local é o mesmo onde hoje se encontra a Igreja e foi escolhido por Madeiro, que era muito religioso e desejava, segundo se conta, ver a Capela todo dia, logo cedinho, da janela da casa que construiu e onde morava, no alto onde foi construído dezenas de anos depois o Colégio Diocesano “Dom João da Mata”...

Escolhido o local para a Capela, de imediato foi erguida uma Cruz de Madeira, sentada em uma base de pedra, simbolizando o poder divino. A pequena igreja logo foi construída, um pouco atrás, e a maneira que os meses passavam novas famílias chegavam ao pequeno povoado, agrupando-se nas ruas periféricas a Capela do Rosário, tomando o lugarejo, em poucos anos, em vila bastante desenvolvida. Já com um bom comércio e muitas moradias, Misericórdia prosperou e a sua excelente localização a transformou num centro comercial que atendia aos habitantes de uma larga faixa de terras, e servia de pouso e passagem obrigatória dos tropeiros que com suas mulas abasteciam os sertões de mercadorias que a terra não produzia, como tecidos, miudezas, calçados, sendo que muitos deles gostaram tanto do lugar que aqui se fixaram, constituíram família e se fixaram para sempre. 

Revista "Itaporanga, 144 anos de história"

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